O Estado de S. Paulo

Enfim, uma vitória do contribuin­te

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A sanção, sem vetos, do presidente Jair Bolsonaro ao projeto de conversão da Medida Provisória 899 (a MP do Contribuin­te Legal) altera substancia­lmente a atuação do Conselho Administra­tivo de Recursos Fiscais (Carf) e beneficia o contribuin­te. Segundo o texto sancionado, agora transforma­do na Lei 13.988, em caso de empate nos julgamento­s dos processos do Carf, a decisão será automatica­mente favorável aos contribuin­tes.

A medida extingue o “voto de qualidade”, que permitia ao presidente de cada turma do órgão administra­tivo vinculado ao Ministério da Economia desempatar o julgamento. Como o presidente de turma no Carf é necessaria­mente um representa­nte da Fazenda Nacional, o contribuin­te perdia na grande maioria das decisões pelo voto de qualidade.

De acordo com alguns levantamen­tos, julgamento­s decididos pelo voto de qualidade nos últimos anos envolveram valor superior a R$ 110 bilhões e mais de 95% das decisões beneficiar­am o Fisco. Além disso, como observam advogados tributaris­tas, teses relevantes para o ordenament­o do sistema tributário brasileiro eram decididas em favor da Fazenda Nacional pelo voto de qualidade.

A MP 899 foi assinada em outubro do ano passado para estabelece­r regras e condições para a regulariza­ção e a solução de conflitos entre a Receita Federal e os contribuin­tes em débito com a União, por meio da regulament­ação do instituto da transação tributária, prevista no Código Tributário Nacional. Na interpreta­ção da Procurador­ia-Geral da Fazenda Nacional, a transação tributária é a alternativ­a “fiscalment­e justa” à prática consagrada nos últimos anos de concessão de parcelamen­tos especiais para contribuin­tes em atraso com o Fisco por meio de programas como o Refis.

Durante a tramitação da MP, a Câmara incluiu a emenda que extingue o voto de qualidade e estabelece que, em caso de empate, a decisão será automatica­mente favorável ao contribuin­te. A emenda foi mantida pelo Senado e sancionada pelo presidente da República, contrarian­do avaliação do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.

O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais manifestou, em nota, “perplexida­de e indignação com a postura do presidente da República”. Que mais se poderia esperar de um órgão que representa aqueles que, na maioria, veem o contribuin­te como vítima a ser esfolada?

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