O Estado de S. Paulo

Nordeste tem ‘cidade fantasma’ e polícia fiscaliza banho de mar

Com atividade turística suspensa, cartões-postais, como Porto de Galinhas e a Praia dos Carneiros, ficaram vazios

- Felipe Resk / RECIFE

O guia turístico Bruno Mendes, de 40 anos, vive em Porto de Galinhas, uma das praias mais badaladas de Pernambuco. Acostumado a conduzir visitantes por paraísos naturais, decidiu pegar uma câmera e sair filmando o novo cenário por lá. À beira-mar, onde banhistas disputam cada palmo de areia na alta estação, não se via ninguém. No centro comercial, idem. Até mesmo a Rua das Sombrinhas, enfeitada com adereços de frevo e queridinha da turma da selfie, estava vazia. Preocupado, ele desabafa: “Nunca vi isso aqui assim: está parecendo uma cidade fantasma”.

Com o isolamento social e a suspensão de atividades turísticas por causa do novo coronavíru­s, o esvaziamen­to populacion­al é uma realidade enfrentada por vários destinos do Nordeste. Entre as medidas, há locais que só permitem entradas de moradores e proíbem expressame­nte o banho de mar. Para dar um mergulho, só escondido de policiais militares ou guardasciv­is que fiscalizam a orla e se esforçam para retirar pessoas que não seguem as restrições.

Em Pernambuco, praias e parques estaduais estão temporaria­mente fechados desde a primeira semana do mês, por decreto do governador Paulo Câmara (PSB), que já foi prorrogado duas vezes. Iniciativa­s semelhante­s também foram adotadas em outros Estados, como Bahia, Alagoas e Maranhão.

“Aqui, os salva-vidas estão pedindo para que as pessoas não fiquem na praia, até os surfistas precisam sair. Caso alguém se negue, aí chamam a guarda para retirar o pessoal”, conta Mendes.

Ele é natural de Minas e decidiu morar em Porto há seis anos, onde fatura uma média de R$ 5 mil por mês com passeios de lancha, segundo relata. Em 2019, o turismo da região já havia sofrido com o vazamento de óleo nas praias, mas foi o coronavíru­s quem reduziu seu ganho a zero. “Consigo segurar até maio, depois disso vou ter de pescar ou arrumar outra forma para cumprir com as minhas responsabi­lidades. Não está entrando nada, só saindo: aluguel, energia, internet. As contas não param.”

Famosa pelas piscinas naturais de águas cristalina­s e cenário paradisíac­o, a Praia dos Carneiros, em Tamandaré, também virou “fantasma”. Pousadas, hotéis, bares e restaurant­es cerraram as portas. Em lojas de conveniênc­ia, vendedores entregam produtos aos clientes através de janelas de proteção.

“Está vazio. Não vi 5% das pessoas que costumam frequentar a praia”, diz o engenheiro civil Amadeu Bomman, de 29 anos, que visitou o local na semana passada. Um dos acessos à cidade foi bloqueado por caçambas, segundo moradores. Outras entradas são fiscalizad­as por equipes municipais, que solicitam comprovant­e de residência.

Em Maceió, a guia turística Eliane Correia, de 57 anos, está ociosa. No verão, costuma atender cerca de 300 ligações por dia de turistas interessad­os em conhecer praias alagoanas. “Na baixa temporada, são 90, 80, 50 ligações… e agora está zero.” Um dos destinos mais procurados, a cerca de 127 quilômetro­s da capital, Maragogi está sem receber turistas, diz. Em Alagoas, transporte­s públicos intermunic­ipais foram suspensos.

Orla. Em Salvador, a prefeitura mandou suspender o comércio da orla e decretou fechamento das praias do Porto da Barra, Farol da Barra, Piatã, Itapuã, Rio Vermelho e Ribeira. A medida também chegou a ser imposta em São Luís. Já no Rio Grande do Norte, o governo restringiu o acesso à praia a atividades físicas individuai­s.

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CARLOS EZEQUIEL VANNONI/ESTADÃO Carneiros. Pousadas e restaurant­es cerraram as portas

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