‘Se continuar nesse ritmo, vamos ter de rezar’, diz enfermeira
Hospitais têm alta de atendimentos e pacientes já relatam dificuldades para conseguir vagas
“Se os pacientes continuarem a chegar nesse ritmo, a gente vai começar apenas a rezar.” Essa é a declaração de uma enfermeira do Hospital Municipal do Tatuapé, na zona leste de São Paulo. A principal Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital está lotada. Ali, são 32 leitos, 10 dedicados aos pacientes de covid-19 e outros 22 para demais ocorrências.
Se um novo paciente grave chegar, os profissionais de saúde podem instalá-lo na unidade semi-intensiva. São mais sete acomodações, com respiradores e monitores. O problema é a falta de espaço. Pacientes e funcionários ficam muito próximos, quase uns sobre os outros. Uma terceira opção seria a sala de observação, espaço adaptado para ser uma semi. O problema ali é outro: não há respiradores para todo mundo.
Os pacientes são recebidos pelos hospitais, mas os locais de atendimento começam a ser improvisados. A vendedora Aline Oliveira teve de levar o marido, de 43 anos, ao Tatuapé, por falta de ar. “A enfermeira foi com ele para a porta da UTI e o médico fala ‘aqui não dá’. Foi a mesma coisa no semi-intensivo. Aí mandaram ele aguardar um pouco. Minutos depois, surgiu uma vaga e ele entrou. Mas está lotado”, diz Aline. O Hospital do Tatuapé tem 77% de uso da capacidade de leitos de terapia intensiva para a covid-19.
O hospital municipal Alípio Corrêa Neto, que oferece 270 leitos para os moradores de Ermelino Matarazzo e Ponte Rasa, na zona leste, atende cerca de 16 mil pessoas por mês. Com a lotação dos 16 leitos de UTI com covid-19, os espaços que eram do pronto-socorro infantil e também a observação masculina foram destinados para casos de coronavírus. Os funcionários não sabem precisar o número de novas vagas.
“Estamos no momento que precede, em algumas semanas, o crescimento de casos que aconteceu na Europa e nos Estados Unidos. A concentração dos casos no Hospital das Clínicas é importante, mas não é suficiente. Os hospitais de campanha limitam casos graves. O problema maior é que temos de dar uma resposta para este momento, mas também para a perda de profissionais dos últimos anos”, explica Gerson Oliveira, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo. “Não bastam equipamentos. É preciso saber trabalhar”, completa.
Os problemas ocasionados pelos altos índices de ocupação são relatados pelos profissionais de saúde às entidades de classe. O Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo (Simesp) registra 168 denúncias sobre problemas no ambiente de trabalho. Desse total, 32 foram de “fluxo inadequado de atendimento”. Outras oito foram por “saturação no sistema de saúde”. A maioria ainda é por falta de equipamento de proteção individual (91).
A Secretaria Municipal de Saúde informa que está empenhada na ampliação da rede de saúde, buscando novas formas de prestar o melhor atendimento. Em relação à demanda por respiradores, a intenção do poder municipal é dobrar o número de equipamentos nas próximas semanas.