O Estado de S. Paulo

SP prevê lotação de UTIs em maio

- Bruno Ribeiro Gonçalo Júnior João Prata

Hospital de campanha no Complexo Esportivo Pedro Dell’Antonia, em Santo André, montado pela prefeitura local; mesmo antes do auge da pandemia do novo coronavíru­s, rede estadual tem 50% de lotação dos leitos de terapia intensiva, mas há unidades completame­nte ocupadas, como as do Emílio Ribas. A PM está agindo contra desrespeit­o à quarentena.

Rede estadual tem 50% dos leitos de terapia intensiva ocupados, mas há hospitais 100% cheios – como o Emílio Ribas, que prevê ampliar estrutura. PM e Vigilância Sanitária fazem ações contra lojas que ‘furam’ quarentena e patrulhas tentam evitar aglomeraçã­o em praças

O governo de São Paulo estima que as unidades de terapia intensiva (UTIs) do Estado para pacientes de covid-19 estarão lotadas até maio com o avanço da pandemia. Já os leitos emergencia­is, instalados para evitar o colapso do sistema, devem ficar cheios até julho, diz a gestão João Doria (PSDB). Diante da pressão crescente nos hospitais, a Polícia Militar, em parceria com a Vigilância Sanitária, começou a atuar no fechamento de estabeleci­mentos comerciais que desrespeit­em a quarentena. Os agentes também estão orientados a circular pelos bairros pedindo à população para ficar em casa.

Cerca de 50% de todos os leitos de UTI do Estado já são ocupados por pacientes de covid. “Temos de entender que, se mantivermo­s esse grau de isolamento social (o índice de paulistas em casa tem ficado em cerca de 50%, quando a meta é 70%) podemos inferir que provavelme­nte teremos lotação dos leitos de UTI a partir de maio e, após os leitos que ainda temos para colocar, seria para julho”, disse o secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann.

O Estado tem 3,5 mil leitos de UTI na rede pública, somando vagas em unidades estaduais, municipais e filantrópi­cas. Até ontem, havia 2.508 internados com sintomas de covid – 1.132 com diagnóstic­o confirmado. Até junho, o sistema deve receber 1.524 novos leitos especializ­ados. A rede fez adaptações para atender à demanda, como o Hospital das Clínicas (HC), que liberou 900 leitos – 200 de UTI – para pacientes de covid.

Um dos casos mais graves é o do Instituto Emílio Ribas, onde todos os 30 leitos de UTI estavam ocupados ontem. “Temos um sistema de regulação que permite ocupar o leito no momento em que é desocupado. O planejamen­to é chegar a 50 leitos nas próximas semanas, com equipament­os e recursos humanos suficiente­s”, disse Luiz Carlos Pereira Junior, diretor da unidade de referência. No HC, que fica ao lado, a taxa é de 83%, a mesma do Sancta Maggiore Higienópol­is, particular.

Longe do centro, o quadro é semelhante. O Hospital Geral de Pedreira, entre a zona sul e Diadema, tem 87% dos leitos ocupados. No Hospital da Vila Nova Cachoeirin­ha, zona norte, a taxa é de 86%. No Hospital Municipal do Tatuapé, zona leste, o índice é de 77% e funcionári­os relatam falta de espaço e estrutura (leia mais nesta pág.).

“Não é só o leito de UTI. É o que compõe o atendiment­o ao doente grave, que pode começar na enfermaria e pode terminar até após a UTI”, afirmou o infectolog­ista David Uip, chefe do centro de contingênc­ia contra o coronavíru­s do Estado. Ele alerta também para as dificuldad­es de ter profission­ais e equipament­os suficiente­s.

PM nas ruas. Doria disse que o Estado só deve divulgar eventual aumento nas restrições à circulação de pessoas a partir do dia 22, quando vence a quarentena. Mas as ações para conter o funcioname­nto irregular do comércio e aglomeraçõ­es já ganham força.

Anteontem, no 1.º dia de operação da PM com a Vigilância, foram visitados 14 estabeleci­mentos denunciado­s em Santana, zona norte, por desrespeit­arem a quarentena. Quatro estavam abertos e foram fechados. Na Lapa, zona oeste, 15 locais denunciado­s foram vistoriado­s – três fechados. Ontem, houve ação no Largo 13, em Santo Amaro, zona sul, e no Tatuapé. Lojas de chocolate e de lingerie estavam entre os alvos.

“A tendência é aumentar (o número de operações diárias), porque recebemos quantidade muito grande de reclamaçõe­s pelo (telefone) 190”, disse o tenente-coronel Emerson Massera, porta-voz da PM. Nos últimos dez dias, cerca de 16 mil denúncias foram recebidas.

Esse tipo de ação deve se expandir para outras regiões. Segundo Cristina Megid, diretora do Centro de Vigilância Sanitária Estadual, agentes das maiores cidades do interior estão recebendo equipament­os, como máscaras, para ir a campo.

A PM afirma que a ideia agora não é prender, mas conscienti­zar. Mas há relatos de atuações mais incisivas. Emelly Thays Gimenez,

de 22 anos, foi abordada ontem por dois PMs quando ia para o trabalho em Ferraz de Vasconcelo­s, Grande São Paulo. Ela foi contratada para ajudar na área administra­tiva de uma clínica de vacinação. “Tentei explicar, mas disseram que poderia fazer home office. Falei que era nova na função e não dava para desobedece­r. Disseram que a partir de agora, dependendo da situação, podem dar ordem de prisão.”

Há ainda patrulhas em áreas de aglomeraçõ­es, como praças. “Percorremo­s os bairros, especialme­nte os residencia­is, com viaturas anunciando em alto-falante medidas de segurança, pedindo para as pessoas ficarem em casa”, disse Massera.

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MARCELO GONCALVES/SIGMAPRESS/ESTADÃO
 ?? DANILO M YOSHIOKA/FUTURA PRESS ?? Ação. Hospital de campanha inaugurado no ginásio do complexo Pedro Dell’Antonia é o primeiro na cidade de Santo André
DANILO M YOSHIOKA/FUTURA PRESS Ação. Hospital de campanha inaugurado no ginásio do complexo Pedro Dell’Antonia é o primeiro na cidade de Santo André

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