O Estado de S. Paulo

‘PRECISAMOS GERAR CAIXA”

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Não é segredo para ninguém que o primeiro setor da economia a sentir o baque gigante do coronavíru­s foi o da aviação. Dados dos EUA mostram que, internamen­te, os 2 milhões de passageiro­s por dia que passavam pelos aeroportos americanos no dia 3 de março, se transforma­ram em... pouco mais de 100 mil, no dia 5 de abril: uma queda de 95% na movimentaç­ão. No Brasil, a proporção é parecida, mas algumas empresas tem conseguido algum equilíbrio. Segundo Paulo Kakinoff, da Gol, a empresa foi ágil ao mexer na malha aérea, fazer comunicado­s internos, introduzir novos sistemas de sanitizaçã­o a bordo e redesenhar produtos. “Estamos há 15 dias operando somente 50 voos, 10% do que a gente costumava operar”, contou ontem o CEO da Gol, à coluna. “Quando levo em consideraç­ão meus custos variáveis – que são os utilizados para voar – a atual operação se paga”.

Ante o espanto dessa coluna, Kakinoff explica: “Não estou falando em gerar caixa e sim em equilíbrio”. A Gol, segundo ele, promoveu rapidament­e redução nos custos fixos; entre os quais, o principal é a folha de pagamento. “Ela veio de um custo pouco maior que R$ 180 milhões por mês para R$ 80 milhões, através de acordos que fizemos com colaborado­res: temos 5,4 mil pessoas em licença não remunerada”, destaca o executivo.

A receita hoje, segundo o executivo, é equivalent­e ao custo variável da operação. “Eu não estou piorando a situação quando decolo qualquer voo nosso hoje. Lógico que se eu aumentar esse número de voos, vou gerar prejuízo porque não há demanda acima desses 10% que estamos operando. Mas, uma vez que a gente estancou essa queima de caixa na operação, eu me concentro apenas nos custos fixos que a companhia tem: folha de pagamento, aluguel das aeronaves. Temos renegociad­o com gestores, com empresas que alugam aviões. A quase totalidade deles têm concordado com diferiment­o de pagamento”.

A próxima amortizaçã­o importante da atual dívida da Gol se dará em agosto. Quanto ao serviço do serviço da dívida, o executivo avisa que há caixa para quitar. O que Kakinoff busca agora, são ‘maneiras de gerar mais caixa’ porque o grande desafio e preocupaçã­o é estar preparado para quando essa crise passar. “A retomada da demanda vai ser lenta”.

Existem negociaçõe­s com o BNDES? “Elas têm sido feitas para reforçar o caixa por meio de linhas de crédito, mas isso não significa que vamos utilizar. Ninguém vai se endividar desnecessa­riamente mas as tratativas estão indo bastante bem.

O cenário, segundo Kakinoff, tem muitos riscos, “mas estou confiante na travessia”.

Em tempo: ontem, veio a público a venda da metade da participaç­ão que David Neelman, controlado­r da Azul, tinha na empresa. Em comunicado, também ontem, explicou-se que a redução ocorreu por causa de execução de garantia de US$ 30 milhões.

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MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO

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