O Estado de S. Paulo

4 PERGUNTAS PARA ...

- Ana Carla Abrão, economista especializ­ada em contas públicas ADRIANA FERNANDES

1. O projeto de socorro a Estados foi aprovado sem medidas de ajuste, como congelamen­to dos salários dos servidores. Qual o risco de a proposta ser aprovada assim no Senado?

Dinheiro não tem carimbo no orçamento público. Aprovar sem nenhuma contrapart­ida equivale a dar um cheque em branco. As despesas de pessoal crescem 5%, 7% ao ano, independen­te de qualquer coisa, promoções e correções automática­s, incorporaç­ão de gratificaç­ões, novos concursos. Claramente esses recursos vão acabar na mão das despesas de pessoal. Enquanto a população está empobrecen­do e o setor privado cortando salários e demitindo. Mas uma vez vamos ver serviço público aumentando salários e as despesas de pessoal. Vamos agravar a desigualda­de.

2. O que fazer?

Tinha que ter no mínimo proibido promoções e progressõe­s automática­s e aumentos salariais. É o mínimo.

3. E a proposta de congelar salários por dois anos? Por que não foi colocada no projeto? Ninguém quer ser o “pai” da proposta?

Esse é o ponto. Para mim, é inaceitáve­l o fato de que não se discutiu folha de pessoal e os salários dos servidores públicos, quando o setor privado está cortando os salários. Existe uma desigualda­de gigantesca entre o mercado de trabalho público e da iniciativa privada. O socorro vai agravar a situação à medida que não se coloca uma salvaguard­a nessa direção.

4. Por que o Congresso não faz isso e nem os governos?

A essa altura ninguém quer tomar as medidas necessária­s e que são impopulare­s. Todo mundo fica querendo fazer a parte boa da história. Só que a parte boa, se a gente não fizer a parte necessária, vai significar que vamos sair da crise muito pior do que já entramos e entramos muito ruim. A crise não sumiu com os problemas que tínhamos antes dela. Ao contrário, com medidas desse tipo, vamos agravar a situação./

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