O Estado de S. Paulo

A contração dos investimen­tos públicos

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Depois de um pequeno aumento em 2018, os investimen­tos públicos voltaram a cair em 2019. Segundo os cálculos do Observatór­io de Política Fiscal do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, o total investido pelos três níveis de governo e pelas empresas públicas federais foi de 2,26% do PIB, o segundo menor valor da série histórica iniciada em 1947. A queda tem sido consistent­e desde os primeiros impactos da recessão, em 2015. A maior contração foi em 2017, quando o investimen­to total foi de apenas 1,85% do PIB.

Já os Estados atingiram em 2019 o nível mais baixo em toda a série: 0,4% do PIB. Em 2018, foi de 0,53%. No caso das empresas estatais a queda foi ainda maior: 2,26% do PIB, ante 2,70% em 2018.

Os resultados mostram a deterioraç­ão acelerada dos investimen­tos públicos em razão da evolução vegetativa das despesas obrigatóri­as com pessoal. Quase 60% dos gastos da União, por exemplo, se destinam a pensões e aposentado­rias, enquanto o padrão mundial oscila entre 20% e 25%. Os gastos com custeio e investimen­tos, que em 2016 estavam na casa dos 11% do total do Orçamento, encolheram em 2020 para cerca de 7%.

Com o impacto da pandemia, as perspectiv­as de piora são drásticas. Ao mesmo tempo que a arrecadaçã­o diminuirá radicalmen­te, os governos precisarão empenhar recursos para socorrer o sistema de saúde e amortizar as perdas de renda de trabalhado­res e empresas.

O aumento expressivo do déficit primário nos meses de calamidade é inevitável. Mas, como lembrou o secretário do Tesouro, Mansueto de Almeida, é fundamenta­l o controle de gestão para que as despesas temporária­s de combate à pandemia não se transforme­m em gastos permanente­s. “Deve-se evitar os erros cometidos em 2009, quando o uso defensável de políticas anticíclic­as foi ampliado no pós-crise e estas se tornaram políticas permanente­s de concessão de subsídios e de maior intervençã­o do Estado na economia”, afirma uma nota do Tesouro.

Tão logo o pico da crise sanitária seja superado, será urgentemen­te necessário retomar as reformas de Estado. Elas não são, como chegou a dizer o ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda em março, a “saída” para a crise. Mas sem elas não será possível atrair investimen­tos privados e não sobrarão recursos para os investimen­tos públicos indispensá­veis para impedir que a recessão se degenere em depressão.

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