FILHA DO REI PEDE REVERÊNCIA À MARTA
Kely De-Luca, a primogênita de Pelé, prepara um importante documentário sobre o futebol feminino
Kely Nascimento DeLuca está perto de lançar um importante documentário sobre o futebol feminino pelo mundo. O nome dela não desperta tanta curiosidade para a maioria das pessoas, mas ao olhar para sua fisionomia, é impossível não lembrar do maior jogador de futebol de todos os tempos. Kely é a filha mais velha de Pelé e espera aproveitar o nome tão respeitado do pai para ser ouvida em sua arte e fazer com que o futebol feminino continue a crescer.
“Meu pai diz que o futebol é lindo e maravilhoso para pertencer somente a algumas pessoas”, contou a primogênita do Rei, em entrevista ao Estado. Kely é cineasta e produtora audiovisual. Hoje ela tem 53 anos e desde a adolescência mora nos Estados Unidos com a mãe, Rose, primeira mulher de Pelé. Lá, ela pode ser “uma pessoa comum” e não a filha do Rei do Futebol. Mudou com o pai em 1975, quando ele trocou o Santos para atuar pelo New York Cosmos. E não voltou mais.
Apesar do apoio de Pelé, Kely passou a usar o nome do pai recentemente apenas. Sua ideia sempre foi abrir caminhos com seus projetos e histórias e tentar mostrar para o mundo que as mulheres também podem ter espaço no futebol. “A Marta deveria ser reverenciada como o meu pai. Isso inspiraria mais meninas no mundo”, disse Kely, que também é embaixadora do Global Goals World Cup, organização que promove a igualdade de gênero no futebol.
Mas a filha de Pelé tem esperança. “Eu vejo a Marta e a Megan Rapinoe (norte-americana eleita a melhor jogadora do mundo) e tenho certeza que esse dia não está longe”. Com essa confiança surge o documentário Warriors of the Beautiful Game (Guerreiras do Jogo Bonito, em tradução livre), que conta os desafios das mulheres para conseguir ganhar espaço no futebol. A previsão de lançamento é entre maio e junho no Brasil.
O documentário conta a vida de Lais Araújo, uma jogadora que atualmente está a Austrália. Ela foi descoberta por Kely através de seu cunhado, Wilson Egidio, que era treinador de futebol em Nova York.
Kely então decidiu conhecer essa “jovem fenômeno” e a levou para jogar em uma escola no Brooklyn, nos EUA. De lá, sua carreira decolou e ela chegou a disputar a Copa do Mundo Sub-20 com a seleção brasileira, em Papua Nova Guiné. “Fiquei muito chocada com a dificuldade do futebol feminino no Brasil. O Brasil é o país do futebol. Não deveria passar por isso”, lamentou Kely.
A obra conta com entrevistas de grandes nomes do futebol feminino como Marta, Formiga, Rosana, Alex Morgan, Jena King, Monica e Emily Lima e tem a participação especial do atacante Neymar. A estrela da seleção dos Estados Unidos, Megan Rapinoe, e a técnica norte-americana Jill Ellis também devem fazer parte do documentário, mas a gravação ainda não foi realizada em razão da pandemia do novo coronavírus.
Para fazer as filmagens, Kely e sua equipe passaram por diversos clubes, como Santos, Juventus-ITA, PSG, Manchester City, Orlando Pride, entre outros. “Pude perceber que muitos clubes estão esperando qualquer desculpa para deixar de investir no futebol feminino, principalmente nos países subdesenvolvidos”, comentou.
A filha do Rei do Futebol sabe que o desafio não é fácil e deixa claro que o momento não é de dividir atenção e investimento com o futebol masculino. “Um dos conceitos errados é que o sucesso do feminino vai tirar algo do masculino. Ninguém tem de dividir nada. Tem dinheiro, espaço e torcida para todos e os Estados Unidos têm mostrado isso”, disse ao Estado.