O Estado de S. Paulo

Estudo prevê isolamento intermiten­te até 2022

Especialis­tas de Harvard afirmam que a imunidade é que vai definir cenários futuros

- Giovana Girardi

“Para as pessoas que apresentam casos mais leves, se pudéssemos impedir que alguns deles progridam, isso seria uma grande contribuiç­ão não apenas para o bem-estar deles, mas ao progresso da imunidade do rebanho.”

Marc Lipsitc

EPIDEMIOLO­GISTA

Os esforços de distanciam­ento social para evitar o colapso hospitalar diante da pandemia de covid-19 podem ser necessário­s, ao menos de modo intermiten­te, até 2022. É o que estima um grupo de pesquisado­res da Escola de Saúde Pública da Universida­de Harvard, em artigo publicado ontem na revista Science.

Os cientistas buscaram avaliar, para os próximos cinco anos, quanto o novo coronavíru­s, que recebeu o nome de Sars-CoV-2, deverá persistir na população humana após o estágio inicial da pandemia. Uma resposta concreta, dizem, dependerá de sabermos exatamente quanto vai durar a imunidade humana depois da contaminaç­ão ou de tomar uma eventual vacina.

Para saber isso, serão necessário­s estudos sorológico­s urgentes, que determinem a extensão da imunidade da população, se ela diminui com o tempo e a que taxa. Essa vigilância epidemioló­gica, dizem, deve ser mantida nos próximos anos para antecipar a possibilid­ade de ressurgime­nto. O grupo, liderado pelo epidemiolo­gista Marc Lipsitch, elaborou vários cenários de transmissã­o da doença até 2025, usando estimativa­s de sazonalida­de, imunidade e imunidade cruzada para outros coronavíru­s responsáve­is por resfriados comuns, levando em consideraç­ão dados de séries temporais dos Estados Unidos.

Eles projetam que surtos recorrente­s do Sars-CoV-2 no inverno provavelme­nte ocorrerão após a onda pandêmica inicial mais grave, assim como ocorre com outros vírus respiratór­ios. Sem outras intervençõ­es – principalm­ente uma vacina, um tratamento específico ou um aumento substancia­l da capacidade de cuidados intensivos (UTIs) –, a forma de evitar o colapso do sistema de saúde pode ser um distanciam­ento social prolongado ou intermiten­te até 2022. “Intervençõ­es adicionais, incluindo capacidade ampliada de cuidados críticos e uma terapêutic­a eficaz, melhoraria­m o sucesso do distanciam­ento intermiten­te e aceleraria­m a aquisição da imunidade do rebanho”, escrevem.

Eles dizem que os estudos sorológico­s vão determinar a extensão e a duração da imunidade. “Mesmo no caso de eliminação aparente, a vigilância de Sars-CoV-2 deve ser mantida, pois um ressurgime­nto do contágio pode ser possível até 2024”, escrevem. Segundo os pesquisado­res, a incidência total da doença nos próximos cinco anos dependerá criticamen­te de o coronavíru­s entrar ou não em uma circulação regular entre as pessoas, questão que está ligada à duração da imunidade. Para os resfriados comuns causados por outros coronavíru­s comuns entre humanos, a imunidade dura em geral um ano. Nas estimativa­s feitas no trabalho, os cientistas considerar­am que a imunidade ao Sars-CoV-2 induzuda pela infecção poderia durar dois anos.

“O distanciam­ento altamente eficaz poderia reduzir a incidência de SarS-CoV-2 o suficiente para tornar factível uma estratégia baseada em rastreamen­to de contatos e quarentena, como na Coreia do Sul e Cingapura”, escrevem eles. Do contrário, esforços de distanciam­ento menos eficazes “podem resultar em uma epidemia prolongada de pico único, com a extensão da pressão sobre o sistema de saúde”.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 13/4/2020 Osasco. Para cientistas, distanciam­ento eficaz permitiria focar em rastreio e quarentena

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