O Estado de S. Paulo

‘Minha preocupaçã­o era com a minha mãe’

‘Nunca imaginei que perderia meu filho de 27 anos para essa doença’, diz Eromar, que pede que as pessoas se isolem

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Eu não estou querendo uma justificat­iva para a morte do meu filho. Sei que ele faleceu porque teve uma doença grave. Mas o que eu quero é mostrar para as pessoas que elas têm de tomar cuidado e as empresas não podem ser negligente­s. A pessoa só vai enxergar a gravidade dessa epidemia quando perder alguém que ama.

Fazia seis meses que o Diogo tinha entrado como vendedor em uma empresa de call center em Alphaville (que fica em Barueri, na Grande São Paulo). Era esforçado. O pessoal dizia que era ‘CDF’. Depois de seis meses como temporário, ele ia ser registrado e passar para um cargo de coordenaçã­o. Estava todo contente que teve essa promoção.

Só que eu estava preocupada por causa do coronavíru­s.

Ele tinha me contado que já tinha três casos suspeitos de coronavíru­s entre os funcionári­os e a empresa não tinha colocado ninguém para trabalhar de casa.

E o local era fechado, sem ventilação. O refeitório ficava cheio e não era arejado. Eu falava para ele tomar cuidado, mas não ia deixar de trabalhar presencial­mente sem autorizaçã­o da empresa.

No dia 2 de abril, ele trabalhou até as 17 horas e foi diretament­e para o hospital porque estava muito ruim, tossindo muito e com febre. Ficou em isolamento em casa alguns dias, mas teve de ser internado no dia 6. Antes de ele ficar doente, minha preocupaçã­o era com a minha mãe, porque ela tem 75 anos e é do grupo de risco. Nunca imaginei que perderia meu filho de 27 anos para essa doença.

Por isso eu quero agora alertar as pessoas: morto não trabalha, morto não paga conta. Levem a sério essa doença e se isolem. A empresa vai continuar lá, mas eu nunca mais vou poder ter o abraço dele.

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