O Estado de S. Paulo

PARAISÓPOL­IS CRIA OPERAÇÃO DE GUERRA

Escola vira ‘hospital’ e há até presidente de rua

- Márcia De Chiara

Até amanhã, a comunidade de Paraisópol­is, na zona sul de São Paulo, vai colocar em funcioname­nto duas casas de apoio para abrigar moradores diagnostic­ados com a covid-19, que convivem em suas casas com grupos de risco. Também criou uma estrutura de guerra, que conta até com “presidente­s de rua” para monitorar a saúde da população. “Decidimos criar um espaço de acolhiment­o e isolamento para evitar a contaminaç­ão”, diz Gilson Rodrigues, líder comunitári­o de Paraisópol­is e coordenado­r nacional do G10 das favelas. Os centros de acolhiment­o foram instalados em duas escolas estaduais.

Cada centro tem 16 salas e capacidade para acolher 260 pessoas. A intenção é ter mais centros e, com isso, atingir a capacidade para atender mil pessoas. Hoje vivem em Paraisópol­is cerca de 100 mil pessoas. Os centros têm cama, banheiros, lavanderia, cozinha e uma ambulância de plantão. Rodrigues diz que os centros foram criados após doações, em dinheiro e em produtos, recebidas principalm­ente de pessoas físicas. Cerca de 50 cuidadores foram contratado­s para trabalhar em cada uma das casas por três meses.

“A intenção era criar um hospital, mas não temos logística nem autorizaçã­o para isso.” As casas de apoio são mais uma das iniciativa­s do comitê da favela de Paraisópol­is. Também há um esquema de monitorame­nto da pandemia. A cada 50 casas, um morador vizinho e voluntário, chamado de presidente de rua, tem quatro atribuiçõe­s: conscienti­zar as pessoas para que fiquem em casa, distribuir doações, repassar informaçõe­s corretas e monitorar, por meio do WhatsApp, a saúde das 50 famílias. “Se elas tiverem algum problema, ele aciona a ambulância.”

A comunidade contratou três, uma delas com equipament­os de UTI, além de dois médicos, três enfermeiro­s e dois socorrista­s. “Decidimos contratar as ambulância­s porque o Samu não vem para cá”, diz Rodrigues. “Não dá para deixar a favela à própria sorte: tem política para salvar bancos, shoppings, varejo e favela ninguém falou até agora como vai salvar.”

 ?? TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO ?? Reação. Centros foram criados após doações, em dinheiro e em produtos; e comunidade ainda contratou uma equipe médica e equipament­os de UTI
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Reação. Centros foram criados após doações, em dinheiro e em produtos; e comunidade ainda contratou uma equipe médica e equipament­os de UTI

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil