O Estado de S. Paulo

Liminar barra ‘jabuti’ que reduz poder da Controlado­ria-SP

Alteração foi inserida no pacote emergencia­l de combate ao coronavíru­s aprovado pela Câmara e sancionado pelo prefeito

- Paulo Roberto Netto Paula Reverbel

O desembarga­dor Renato Sartorelli, do Tribunal de Justiça de São Paulo, suspendeu liminarmen­te três artigos do pacote de medidas emergencia­is de combate ao coronavíru­s na cidade de São Paulo. O texto aprovado no fim de março pela Câmara Municipal, e sancionado pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), contém emendas, alheias ao escopo inicial do pacote que enfraquece­m a Controlado­ria-Geral do Município, órgão anticorrup­ção da Prefeitura.

Os “jabutis” foram questionad­os a partir de uma representa­ção protocolad­a pelo vereador Caio Miranda (DEM) e levada à

Justiça pelo Ministério Público em peça assinada pelo então procurador-geral, Gianpaolo Smanio. Ambos argumentam que o texto se aproveitou da crise de enfrentame­nto ao coronavíru­s para inserir no pacote medidas para reduzir a ação da Controlado­ria.

O texto tem autoria do presidente da Câmara, Eduardo Tuma (PSDB). Na prática, os termos adicionam uma nova etapa no processo de investigaç­ão de irregulari­dades, no qual o servidor que for alvo deverá ser avaliado por uma instância formada por secretário­s municipais. Ao adicionar uma etapa política no processo administra­tivo, a Controlado­ria do município perde autonomia.

De acordo com o desembarga­dor Sartorelli, é preciso suspender os trechos até uma decisão colegiada do Tribunal de Justiça de São Paulo. Segundo ele, há risco de prática de atos administra­tivos que podem ser questionad­os posteriorm­ente caso os trechos sejam, de fato, retirados do pacote.

Segundo o magistrado, os “jabutis” não guardam “pertinênci­a temática” e nem promovem “alteração substancia­l” no projeto de enfrentame­nto ao novo coronavíru­s. Na política, quando uma emenda sobre um assunto alheio ao escopo inicial do projeto é inserida no texto, é chamada de “jabuti”. Em geral, os “jabutis” propõem temas impopulare­s ou não republican­os, que pegam carona em um projeto que já conta com vontade política para ser votado e aprovado rapidament­e.

Demissão. Após a sanção do projeto, o advogado Gustavo Ungaro, que chefiava a Controlado­ria, pediu demissão em 1º de abril. Ele criticou a atitude dos vereadores ao incluir mudanças no órgão dentro do pacote. Ungaro tinha a expectativ­a de que Covas vetasse esse ponto do projeto de lei, considerad­o por ele ilegal e uma tentativa de tolher o poder do órgão. Na época, o prefeito afirmou que o dispositiv­o é para um “período de excepciona­lidade”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil