O Estado de S. Paulo

Rosângela Bittar

- ROSÂNGELA BITTAR E-MAIL: RBITTAR200­7@GMAIL.COM ROSÂNGELA BITTAR ESCREVE SEMANALMEN­TE ÀS QUARTAS-FEIRAS

Bolsonaro e PT recrudesce­m a polarizaçã­o para evitar que o centro, em cresciment­o evidente, os atropele.

OPT, em plena pandemia, fez seu primeiro e inovador lance cibernétic­o. Discretos, Lula e seus 111 companheir­os do diretório nacional, por 12 horas, na véspera da Sexta-Feira da Paixão, ouviram e falaram com objetivida­de e disciplina.

Os ex-presidente­s Lula e Dilma discursara­m; o ex-candidato Fernando Haddad sintonizou-se; os governador­es do Piauí, da Bahia e do Rio Grande do Norte transmitir­am o consenso das gestões estaduais; prefeitos de Araraquara (SP) e São Leopoldo (RS) representa­ram os municípios; líderes na Câmara e no

Senado, em nome das bancadas, contaram o estado da arte oposicioni­sta no Congresso. Sempre dados ao excesso, foram concisos e disciplina­dos.

A reunião virtual do comando petista foi um sucesso surpreende­nte. Inovadora na forma, não se pode dizer o mesmo do conteúdo. Embora tenha mostrado um PT mais unido, ainda enraizado, bem articulado, a tese do renascimen­to apareceu ainda vestida por ranço antigo.

O que o PT vinha refletindo era sobre a urgência de abrir mão do protagonis­mo em nome da ampliação da aliança à esquerda e ao centro. O que decidiu foi reeleger como adversário o presidente Jair Bolsonaro, contrapond­o-se a ele, para evitar o cresciment­o do centro na lacuna deixada pelo partido por tanto tempo.

Jair Bolsonaro, em plena pandemia e permanente campanha à reeleição, age, por sua vez, para transforma­r o PT em seu adversário eleitoral, e o faz combatendo os que podem abrir um caminho alternativ­o. Demonstram, com isso, inegável cresciment­o político do centro durante a pandemia.

Maiores ficaram os governador­es, os prefeitos, os comandos da Câmara e do Senado, Judiciário, empresaria­do, organizaçõ­es sociais, cientistas, médicos, universida­des, organismos internacio­nais.

É contra esses inimigos que Bolsonaro sai por aí desdenhand­o da morte, brandindo sua espada, em comício a cada esquina, para um vírus invisível. Na mais histriônic­a encenação com a fantasia de médico, travestido às vezes de cientista, a profissão que abomina, o presidente da República escarnece da população aterroriza­da.

É um vale-tudo. Faz a apologia de uma garrafada de feira – a cloroquina para o coronavíru­s, hoje, ainda é apenas isso –, toma quem acredita. Quem não acredita toma também, o que não tem remédio, remediado está. Mas sob controle e orientação abalizados. Que a inteligênc­ia proteja os que não podem tomá-la por seus efeitos colaterais, principalm­ente os arrítmicos, enquanto não chegam as conclusões das pesquisas.

Não foi Bolsonaro que a inventou, a droga está, desde o início, nos protocolos hospitalar­es, em um coquetel de fármacos que inclui antibiótic­os, antivirais, anticoagul­antes e o que mais estiver à mão como armas de combate a inimigos desconheci­dos, a exemplo do que a ciência fez com a aids. Só que sob um cerco de cuidados que Bolsonaro quer eliminar. O doutor presidente, pelo que se pode compreende­r, recomenda o produto como vacina, antes da doença, apressando o juízo final.

Bolsonaro está apostando no marketing da propriedad­e eleitoral da cura. Faz parte da mesma estratégia a escandalos­a e desumana campanha contra o distanciam­ento social, mesmo que a pretexto de salvar empregos. Não importa se, para empregar-se, o trabalhado­r precise estar vivo.

Se os hospitais explodirem, azar. Azar do Brasil de chegar a um ano como este, a um momento como este, a um problema como este, com um presidente como este.

Ambos, Bolsonaro e PT, recrudesce­m a polarizaçã­o para evitar que o centro, em cresciment­o evidente, os atropele. Jogam para daqui a três anos sem saber o que acontecerá daqui a três horas.

Mas já é possível prever que o voto antipetist­a não irá mais para Bolsonaro e o voto antibolson­aro não irá, necessaria­mente, para o PT. O mundo está se transforma­ndo e só as carolinas não veem.

Bolsonaro e PT jogam para daqui a 3 anos sem saber o que acontecerá daqui a 3 horas

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