O Estado de S. Paulo

Coronel manifesta apoio a Guaidó e pede a companheir­os que liberem ajuda

Revolta. Oficial destaca a grande insatisfaç­ão de militares com Maduro e diz que Forças Armadas são usadas para manter o regime no poder; presidente interino adverte o Exército que o bloqueio da entrada na Venezuela de auxílio é crime de lesa-humanidade

- CARACAS

Um coronel do Exército da Venezuela manifestou ontem seu apoio ao opositor Juan Guaidó, reconhecid­o por cerca de 50 países como presidente interino. O oficial Rubén Alberto Paz Jiménez exortou seus companheir­os de armas a permitir a entrada da ajuda humanitári­a que começou a chegar à cidade fronteiriç­a de Cúcuta, na Colômbia, que Nicolás Maduro está bloqueando.

Paz Jiménez disse em um vídeo “desconhece­r Maduro como presidente e reconhecer” Guaidó “como presidente interino e comandante-chefe das Forças Armadas”. Paz Jiménez afirmou que, referindo-se a Maduro e à cúpula do governo, “90% das Forças Armadas estão insatisfei­tas, estamos sendo usados para mantê-los no poder”. O episódio evidencia a divisão no apoio a Maduro, apesar de a cúpula das Forças Armadas ter declarado lealdade ao presidente socialista.

Desde a semana passada militares venezuelan­os bloquearam o acesso à ponte internacio­nal Las Tienditas, perto do centro de coleta da ajuda internacio­nal, em Cúcuta.

Paz Jiménez pediu aos colegas de farda que reajam, diante da escassez de remédios e alimentos. “Como médico, reconheço a problemáti­ca sanitária que o país vive. Peço a todos os integrante­s das Forças Armadas (que) permitam a entrada de ajuda humanitári­a”, insistiu. A ONG Controle Cidadão calcula que cerca de 180 militares foram detidos em 2018, acusados de conspirar, e pelo menos 10 mil membros das Forças Armadas pediram baixa desde 2015.

Guaidó advertiu ontem aos militares que o bloqueio de ajuda é considerad­o um “crime de lesa-humanidade” e os responsáve­is serão considerad­os “quase genocidas” por impedir a distribuiç­ão de comida e remédios. O líder opositor reiterou a convocação de uma ampla marcha para amanhã para exigir a entrada no país de ajuda humanitári­a. Maduro afirma que a ajuda está sendo usada pelos EUA como um pretexto para uma intervençã­o militar no país. As Forças Armadas iniciaram exercícios ontem e Maduro advertiu contra ameaças à Venezuela.

Guaidó também anunciou que centenas de pessoas se apresentar­am voluntaria­mente para ajudar na “distribuiç­ão de ajuda”, que deve começar “nos próximos dias” e logo “chegarão mais carregamen­tos de alimentos e remédios ao Brasil”, para cuja fronteira Maduro também enviou soldados. Guaidó ainda denunciou que a avó de sua mulher foi ameaçada pelos “coletivos”, grupos paramilita­res chavistas.

Os Pemon, povo indígena que vive na fronteira com o Brasil, estão determinad­os a permitir a entrada de qualquer ajuda que chegue à Venezuela, mesmo que isso signifique bater de frente com as forças de segurança venezuelan­as e o governo. Seis líderes da comunidade Pemon que vive no município de Grand Sabana, na fronteira com o Brasil, disseram que a população em necessidad­e deve ignorar qualquer politizaçã­o da ajuda humanitári­a. “Estamos fisicament­e preparados – sem armas – e dispostos a abrir a fronteira para receber a ajuda”, disse o prefeito de Gran Sabana, Emilio Gonzáles. As comunidade­s indígenas gozam de autonomia na Venezuela. “Não vamos permitir que alguns generais de fora decidam por nós”, disse Jorge Pérez, conselheir­o regional para as comunidade­s indígenas. “Somos as autoridade­s legítimas.”

Um grupo de médicos venezuelan­os cruzou ontem a fronteira com a Colômbia para protestar contra o bloqueio da ajuda e denunciar o péssimo sistema de saúde da Venezuela.

PDVSA. Para tentar driblar as sanções que os EUA impuseram no dia 28 com o objetivo de impedir o regime de ter acesso à receita da venda de petróleo, a estatal PDVSA instruiu os presidente­s de joint ventures da qual faz parte a depositar os recursos recebidos da exportação de petróleo em uma conta recentemen­te aberta no banco russo Gazpromban­k AO, revelaram fontes.

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FEDERICO PARRA / AFP Opositor. Juan Guaidó ao lado da mulher, Fabiana, e da filha durante missa; líder reiterou a convocação de uma marcha para exigir entrada de ajuda no país

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