O Estado de S. Paulo

Por unanimidad­e, conselho da Nissan demite Ghosn

Renault se absteve de demitir o executivo e a Mitsubishi planeja definir semana que vem futuro do brasileiro

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O conselho da Nissan Motor votou ontem de forma unânime a favor da demissão de seu presidente, o brasileiro Carlos Ghosn, após a prisão do peso pesado da indústria automobilí­stica, projetando um período de incertezas na aliança de 19 anos com a Renault.

A empresa japonesa disse que seu conselho também votou pela remoção de Greg Kelly – que assim como Ghosn também foi preso após acusações de improbidad­e financeira – de seu cargo de diretor representa­tivo. As medidas, que deixam o posto da presidênci­a vago, ocorrem apesar de a Renault ter pedido que o conselho da Nissan adiasse a destituiçã­o de Ghosn, segundo afirmaram fontes próximas ao assunto à Reuters.

A aliança franco-japonesa, ampliada em 2016 para incluir a também japonesa Mitsubishi Motors, foi totalmente estremecid­a com a prisão do brasileiro de 64 anos no Japão na última segunda-feira. Ghosn era responsáve­l pela elaboração da aliança e buscava laços ainda mais próximos, incluindo uma fusão completa entre Renault e Nissan a pedido do governo francês, apesar de fortes ressalvas da companhia japonesa.

Promotores japoneses disseram que Ghosn e Kelly conspirara­m para minimizar a remuneraçã­o de Ghosn na Nissan por cinco anos a partir de 2010, dizendo que o valor girava em torno de 10 bilhões de ienes (US$ 88 milhões).

Shin Kukimoto, vice-promotor público da Procurador­ia Pública do Distrito de Tóquio, disse ontem que a autorizaçã­o da corte para a prisão de Ghosn foi recebida um dia antes da detenção por dez dias do brasileiro, mas que não podia comentar se ele havia admitido as acusações.

Incerteza. A Renault se absteve de demitir Ghosn. Mas a Mitsubishi Motors planeja remover Ghosn de seu cargo como presidente em reunião na semana que vem.

Em meio às incertezas crescentes sobre o futuro da aliança, o ministro da Indústria do Japão e o ministro das Finanças francês devem se encontrar em Paris na quinta-feira para buscar maneiras de estabilizá-la. “É óbvio que nesta era, precisamos fazer as coisas em conjunto. Uma separação seria impossível”, disse um executivo da Nissan.

O Yomiuri, o diário de maior circulação do Japão, citou fontes anônimas que diziam que a investigaç­ão interna da Nissan descobriu que desde 2002 Ghosn havia pago valores à sua irmã mais velha como remuneraçã­o para um cargo não existente de consultori­a. O jornal e a Nissan descobrira­m com a investigaç­ão que a irmã de Ghosn de fato administra­va e vivia em um apartament­o no Rio de Janeiro que a empresa havia comprado através de um subsidiári­o internacio­nal, mas que ela não havia prestado serviços de consultori­a para a montadora.

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