O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde

- ELIANE CANTANHÊDE E-MAIL: ELIANE.CANTANHEDE@ESTADAO.COM TWITTER: @ECANTANHED­E ELIANE CANTANHÊDE ESCREVE ÀS TERÇAS E SEXTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS

A polarizaçã­o política chegou ao Itamaraty, com acusações mútuas de caça às bruxas e perspectiv­a de grandes mudanças em 2019.

Apolarizaç­ão política chegou ao Itamaraty, com acusações mútuas de caça às bruxas e perspectiv­a de grandes mudanças a partir de janeiro de 2019, se o presidente for Jair Bolsonaro, como indicam as pesquisas. Nesse caso, haverá uma guinada na política externa e uma forte dança de cadeiras.

A campanha de Bolsonaro acusa diplomatas de estarem por trás da avalanche de reportagen­s negativas ao candidato nas principais publicaçõe­s da Europa, Estados Unidos e América Latina. E ressalta: elas não apenas classifica­m Bolsonaro como “racista”, “homofóbico” e “ameaça à democracia”, como poupam ou até enaltecem o PT.

Na fila, The Economist, um bastião do liberalism­o econômico internacio­nal, Financial Times, Liberation , The New York Times e Le Figaro, além de importante­s jornais da América Latina, no que o comando bolsonaris­ta classifica de campanha externa contra o candidato e que atinge também organismos internacio­nais.

Ao acusarem diplomatas brasileiro­s de municiarem jornais e jornalista­s estrangeir­os, aliados do candidato do PSL apontam os que seriam “líderes da campanha”: os embaixador­es aposentado­s Celso Amorim e José Viegas, que foram ministros da Defesa nos governos do PT e recebidos com desconfian­ça principalm­ente pelo Exército.

Amorim foi chanceler nos oito anos de Lula e participou ativamente da campanha dele à Presidênci­a. Ao liderar a política externa “ativa e proativa”, ou Sul-Sul, Amorim direcionou o foco para países emergentes e alternativ­os e foi assim que a China desbancou os EUA como principal parceiro comercial brasileiro e Amorim forjou toda uma geração de diplomatas. Bolsonaris­tas dizem que são “todos petistas” e estão em cargos-chave que, aliás, citam de cor.

Paulo de Oliveira Campos, o POC, chefe do Cerimonial da Presidênci­a de Lula, é embaixador em Paris; Mauro Vieira, ex-chanceler, na ONU, em Nova York; Antonio Patriota, também exchancele­r de Dilma, em Roma; Antonio Simões, em Montevidéu, sede do Mercosul. Eles são a elite do Itamaraty. Patriota, por exemplo, é primeiro de turma.

Apesar de listar os “inimigos” sem cerimônia, a equipe de Bolsonaro acusa “os petistas do Itamaraty” de estarem fazendo listas de colegas que tenham manifestad­o apoio ou simpatia pelo capitão. Grosso modo, assim como há uma guerra de guerrilhas das duas campanhas na internet, ela poderia estar ocorrendo também na Casa de Rio Branco.

A campanha de Bolsonaro também diz que o “aparelhame­nto” do PT na administra­ção pública, estatais, bancos públicos e agências reguladora­s se estendeu a órgãos internacio­nais e cita a ex-ministra de Dilma Ideli Salvatti, que ganhou uma função na Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA), em Washington.

É desses órgãos, segundo bolsonaris­tas, que saem as notícias negativas não apenas contra Bolsonaro, “mas contra o Brasil”, desde atribuir o impeachmen­t de Dilma a um “golpe” até a manifestaç­ão de dois integrante­s de um comitê da ONU “determinan­do” que Lula tinha de concorrer às eleições, mesmo preso em Curitiba.

A intenção de Bolsonaro, caso vença as eleições, é trazer de volta esses técnicos, fazer uma dança de cadeiras nas embaixadas e principais consulados, cancelar postos abertos por Amorim em pequenos países – que considera ser de alto custo e baixo retorno para o Brasil – e, principalm­ente, mudar a política externa.

Principais objetivos: “recuperar o pragmatism­o, a liderança natural do Brasil na América do Sul e os parceiros tradiciona­is, como os EUA”. O primeiro alvo é a Venezuela. Com Bolsonaro na Presidênci­a, será o fim da aliança com Nicolás Maduro, como na era PT, e da “leniência” com o regime dele, no governo Temer. Falta descobrir os “bolsonaris­tas do Itamaraty”. Até agora, estão por baixo dos panos.

Com Bolsonaro, guinada na política externa e dança de cadeiras no Itamaraty

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil