O Estado de S. Paulo

‘País deve seguir tendência global de cortar impostos’

Ministro afirma que objetivo é reduzir a carga tributária dos atuais 34% para até 22% com corte de IR de empresa

- Irany Tereza Adriana Fernandes Idiana Tomazelli/ BRASÍLIA

A proposta de redução do Imposto de Renda das empresas aproximará a carga tributária cobrada no Brasil, hoje de 34%, da praticada pelos Estados Unidos e da média dos países que integram a Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico, entre 21% e 22%. Em entrevista, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, que participa hoje da entrega dos prêmios “Empresas Mais”, do Estadão, afirmou que essa redução será feita de forma gradual. A equipe econômica vai esperar o resultado da eleição presidenci­al para encaminhar ao Congresso as duas medidas tributária­s que considera prioritári­as: a reforma de PIS/Cofins, já pronta, e a redução do I.R. para pessoas jurídicas.

Como será o pacote tributário que o governo mandará o Congresso?

Estamos trabalhand­o na parte tributária em duas frentes. A reforma do PIS/Cofins, que é algo que já estamos falando há bastante tempo. Só estamos esperando o momento para mandar para o Congresso. Não adianta fazer agora porque está todo mundo em eleição. É um tema complicado e eu não quero simplesmen­te mandar o projeto sem explicar antes. O outro projeto que ainda não está pronto é uma proposta de alteração do Imposto de Renda para Pessoa Jurídica, que tem que ser acompanhad­o da tributação de lucros e dividendos.

Por que o governo vai reduzir o imposto para as empresas?

É a tendência internacio­nal de redução da tributação da pessoa jurídica e já ocorreu em vários países, incluindo os EUA. Achamos que é importante equalizar esse mesmo tratamento tributário equiparado ao que acontece no resto do mundo. Mas não dá para perder receita. A gente tem um problema fiscal complexo. Por isso faremos redução acompanhad­a da tributação de dividendos e de revisão dos juros sobre capital próprio. Temos que ver tudo isso em conjunto fazer conta e poder ter uma transição que permite fazer uma redução responsáve­l da alíquota do IRPJ acompanhad­a de tributação de dividendos.

Não dá para aumentar a arrecadaçã­o com a tributação de lucro e dividendos como muitos candidatos têm falado?

No meu entendimen­to, seria um erro tributar dividendos sem rever a tributação da PJ. A redução da tributação tem um custo que precisa ser compensado. Você precisa olhar o conjunto. Eu prefiro ir para um sistema que é mais próximo do que o mundo inteiro pratica onde você reduz a tributação da PJ e taxa os dividendos e isso cria um incentivo a reter lucros nas empresas para investir no próprio negocio. Eu não vejo como correto só taxar dividendos sem rever taxa de PJ. Do contrário, nós vamos agravar o que existe hoje porque o Brasil tem uma taxação superior à media internacio­nal.

O sr. quer equilibrar a alíquota com a média da OCDE?

O ponto de chegada tem que ser uma tributação equivalent­e à que tem a maioria dos países. Daí se faz uma combinação entre a base de cálculo e a alíquota. O resultado disso deve levar a uma tributação em linha com o que o resto do mundo está fazendo. A média da OCDE está em 21%, 22%, os Estados Unidos convergira­m para isso. A partir do momento em que se está tributando o lucro, usa-se os padrões contábeis internacio­nais. Aí é uma questão de compatibil­izar isso com a redução da tributação fiscal. Talvez tenhamos que construir uma transição para chegar lá.

A ideia é que a transição seja feita em quanto tempo?

Não está na hora de falar em números enquanto não estiver com os termos prontos. Estou falando da direção do que a gente estuda, estamos preocupado­s com isso porque houve uma mudança relevante no patamar da tributação da pessoa jurídica no mundo todo, e o Brasil deveria acompanhar.

É possível aprovar medidas tributária­s no momento da transição?

Acho muito difícil falar em chance de aprovação neste momento, até porque a gente não sabe qual será o resultado da eleição, e evidenteme­nte tudo que vai ser aprovado daqui para frente, principalm­ente aquelas matérias relevantes, que têm impacto de curto, médio e longo prazo, devem ser debatidas com o próximo presidente eleito. Como a gente não sabe quem vai ser eleito e qual é a postura sobre esses temas, é difícil fazer qualquer previsão sobre a possibilid­ade ou não de aprovar temas em novembro e dezembro (de 2018). O que a gente quer é defender os temas que a gente acha corretos e, em segundo lugar, até onde a gente conseguir, apresentar propostas que a gente acha importante­s.

O sr. vai mexer no Imposto de Renda pessoa física também? Não estamos pensando nisso. Só pessoa jurídica.

Esse clima de campanha polarizada pode dificultar a transição e o encaminham­ento das propostas?

Acho que não. Do nosso lado vamos estar abertos para conversar. Uma vez eleito o novo presidente, seja ele quem for, independen­temente do que for discutido durante a eleição, temos a responsabi­lidade de fazer uma transição organizada e bem feita. O que se diz na campanha não afeta a transição que faremos. A transição é para quem ganhar.

Tributação cara

“É a tendência internacio­nal de redução da tributação da pessoa jurídica e já ocorreu em vários países, incluindo os Estados Unidos.”

“Estamos trabalhand­o na parte tributária. A reforma do PIS/Cofins, que é algo que já estamos falando há bastante tempo. Só estamos esperando o momento para mandar para o Congresso.”

Mesmo no caso de sair vitorioso um candidato que defenda ideias totalmente contrárias à condução atual?

Vamos separar as coisas: o presidente eleito tem todo o direito de defender a ideia que quiser; o que vamos fazer é uma transição organizada, mostrar as questões que estão em discussão, apresentar os temas que a gente acha importante­s para os primeiros cem dias de governo.

“Não estamos pensando nisso (mudar o IR da pessoa física). Só pessoa jurídica.”

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADAO-13/4/2018 ?? Pacote. Por enquanto, o corte de impostos seria só para as empresas, disse Guardia
DIDA SAMPAIO/ESTADAO-13/4/2018 Pacote. Por enquanto, o corte de impostos seria só para as empresas, disse Guardia

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