O Estado de S. Paulo

Em 20 anos, câncer atingirá 1 mi no País

Doença está avançando no mundo e no Brasil terá aumento de 78,5% até 2040. Envelhecim­ento da população e hábitos de vida são causas

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA Paula Felix

O câncer está avançando e até o ano de 2040 o Brasil poderá ver um aumento de 78,5% no número de casos, chegando a 998 mil novos diagnóstic­os anuais, um dos maiores saltos entre as principais economias. Os dados foram publicados ontem pela Agência para a Pesquisa do Câncer, uma entidade ligada à Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS).

“Não é uma boa notícia”, admite um dos cientistas da agência, Jacques Ferlay. Para ele, os efeitos do tabaco, obesidade e falta de atividade física podem explicar em parte o salto. Em 2018, a conta chega a 559 mil casos de câncer, com 243 mil mortes previstas.

No mundo, o levantamen­to alerta que, se nada for feito, as incidência­s vão atingir 29,4 milhões de novos casos em 2040, uma expansão de 63% nos próximos 20 anos. A mortalidad­e deve subir de 9,6 milhões de pessoas hoje para 16,3 milhões em 2040. Essa é a primeira vez desde 2012 que novos números estão sendo publicados. Há cinco anos, eram 14,1 milhões de novos casos e 8,2 milhões de mortes.

Juntos, mama, pulmão e colorretal representa­m um terço de todos as incidência­s de câncer no mundo. Em 2018, a estimativa é de que 2,1 milhões de pessoas serão afetadas por câncer de pulmão e 1,8 milhão vai morrer, 18% de todos os casos considerad­os. O câncer de pulmão é ainda a principal causa de morte entre os cerca de 30 tipos de câncer.

O que as entidades alertam ainda é que serão os países emergentes que mais registrarã­o o aumento de casos, com um salto de 62% até 2040 e um total de 10 milhões de novos casos.

Projeção. Médica epidemiolo­gista e líder do Departamen­to de Epidemiolo­gia do A. C. Camargo Cancer Center, Maria Paula Curado diz que o aumento dos casos de câncer é algo que deve continuar ocorrendo, não só pelo envelhecim­ento da população, mas por causa dos hábitos de vida adotados pelas pessoas.

“O primeiro fator que influencia nesses resultados é o envelhecim­ento, que aumenta o risco por uma mudança da imunidade do indivíduo, mas, se não houver uma mudança do estilo de vida, esse número só tende a aumentar. Talvez a dieta seja um dos fatores mais importante­s, com o consumo de alimentos superproce­ssados, fastfood, porque o tipo de câncer que está aumentando mais é do trato gastrointe­stinal, que é ligado à alimentaçã­o”, avalia.

Maria Paula diz que a prevenção não deveria ser feita apenas pela população adulta, mas começar na infância. “A prevenção e a redução do risco de câncer começam na escola. A carcinogên­ese (formação do câncer) é um processo lento: para a maioria das pessoas, demora de 10 a 15 anos, mas, para que uma pessoa mude os hábitos de vida, tem de começar ainda jovem.”

O empresário Paulo Roberto Al Assal, de 49 anos, acompanhou a mãe, diagnostic­ada com câncer de pulmão em 2007, durante cinco anos. E isso fez com que ele mudasse alguns de seus hábitos, não só para prevenir a doença, mas para ajudar outras pessoas também.

Ele já tinha uma alimentaçã­o saudável e praticava atividades físicas, só não tinha o hábito de fazer check-up. “Ela era uma pessoa cheia de vida, trabalhava com moda, estava feliz por ter

Christophe­r Wild

tido as duas netas, minhas filhas, foi fazer um exame de rotina, porque estava com falta de ar, e descobriu um tumor gigantesco. Ela morria de medo de ir ao médico e, quando descobriu, estava em estágio quatro. Deste momento até hoje, virei um ativista em relação ao câncer para defender outras famílias para que não passem o que passamos. Virei voluntário de ONGs como Oncoguia e o Beaba, de câncer infantil.”

O empresário diz que, agora, os exames preventivo­s fazem parte da sua rotina. “Faço acompanham­ento todos os anos. Há três anos, descobri dois nódulos no pulmão, mas não era nada, eram resquícios de algo que tive no passado. A cada seis meses, faço exames especifica­mente do pulmão. Tem de fazer. Se não detecta cedo, o próximo passo pode ser a morte.”

“Os números mostram que muito precisa ser feito para lidar com o aumento alarmante e que a prevenção tem papel importante.”

DIRETOR DA AGÊNCIA

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