O Estado de S. Paulo

PM diz que crime foi premeditad­o e PF vai investigar

Servente de pedreiro Adelio Oliveira, de 40 anos, foi preso em flagrante; após o atentado, segurança dos candidatos será reforçada

- Ricardo Galhardo Fabio Serapião / COLABORARA­M CONSTANÇA REZENDE, RENAN TRUFFI e MARCELO GODOY

A Polícia Federal em Juiz de Fora (MG) instaurou inquérito para investigar o ataque ao candidato à Presidênci­a Jair Bolsonaro (PSL). O servente de pedreiro Adelio Bispo de Oliveira, de 40 anos, foi preso em flagrante.

Para a Polícia Militar, o ataque ao deputado foi premeditad­o. Os policiais estão atrás de telefones celulares, documentos ou qualquer outra pista que possa esclarecer se o autor do crime agiu sozinho ou se teve ajuda. O governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), afirmou que Oliveira não “parecia um sujeito equilibrad­o”. “Colocamos todo o aparato de segurança do Estado à disposição para elucidar o caso”, disse ao Estado. Pimentel informou ainda que, como o caso envolvia um candidato à Presidênci­a, “o protocolo remete o registro da ocorrência à PF.”

Um dos coordenado­res da campanha de Bolsonaro, o deputado Delegado Francischi­ni (PSL-PR) disse que vai entrar com representa­ção na PF para que seja investigad­a a possibilid­ade de o atentado ser “crime político”.

Reforço.

O presidente do PSL, Gustavo Bebiano, afirmou ter procurado na terça-feira passada a diretoria-geral da PF para relatar que o risco a que o presidenci­ável estava exposto em sua campanha nas ruas havia aumentado, e pediu reforço da escolta com que ele já conta.

“Estivemos na PF expondo que o nível de risco estava aumentando e pedindo reforço. Mas Jair é muito corajoso e se joga, é um homem do povo e assume risco”, disse ele, em entrevista no pátio da Santa Casa de Misericórd­ia, onde Bolsonaro está internado.

O ataque deve obrigar os demais candidatos a se submeterem a normas mais rígidas de segurança, com impacto direto na campanha eleitoral. Na hora do ataque, 15 agentes da PF estavam cuidando da segurança do candidato. Os protocolos do setor de Proteção a Dignitário­s da Polícia Federal, responsáve­l pela segurança dos presidenci­áveis, determinam que em casos como o do atentado a Bolsonaro faz-se uma reavaliaçã­o para estipular um novo “grau de risco”.

Na teoria, alguns delegados chamam este evento de “fato revolucion­ário”, que muda o cenário de atuação da PF. Segundo eles, essa reavaliaçã­o está sendo feita para ser empregada nas próximas agendas dos candidatos.

Após o ataque a Bolsonaro, ao menos seis outros presidenci­áveis anunciaram cancelamen­to das agendas de campanha (mais informaçõe­s na pág. A9). As medidas adicionais podem incluir uso de novos equipament­os (colete a prova de bala, carro blindado etc) e novas táticas, como evitar lugares abertos, planejar todas aparições, evitar o contato direto do

candidato com os eleitores.

Policiais com experiênci­a nesse tipo de trabalho disseram que o perfil da campanha de Bolsonaro, apoiado por militares que muitas vezes se apresentam como seguranças voluntário­s, dificulta ainda mais a proteção. Esse excesso de gente quebra a formação de segurança da equipe profission­al e, como consequênc­ia, dilui as responsabi­lidades durante os eventos de campanha.

“Ações como aquela (na qual Bolsonaro foi esfaqueado) são contraindi­cadas. Não fazem parte da avaliação de risco da PF por conta da vulnerabil­idade. Não havia cordão de isolamento primário nem secundário porque o candidato se colocou naquela situação. Normalment­e, eles não seguem as orientaçõe­s propostas pelas equipes de segurança da PF”, disse o presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal, Flavio Werneck. “muito preocupado” com este episódio, que classifico­u como “inadmissív­el”. O comandante afirmou que pediria aos generais do Alto Comando que acompanhem mais de perto “o nível de inseguranç­a nas campanhas e a possibilid­ade de crescer a violência no País”.

Para ele, o episódio envolvendo Bolsonaro deverá “repercutir em todo o processo eleitoral e gerar mais instabilid­ade”. Já o ministro da Defesa alertou que é preciso “baixar os ânimos” para que as eleições ocorram em “clima de normalidad­e”.

 ?? GUILHERME LEITE/AGÊNCIA O GLOBO ?? Autor. O servente de pedreiro Adelio Bispo de Oliveira, de 40 anos, é preso em flagrante após atacar Bolsonaro em Juiz de Fora; ao lado, a faca encontrada com o agressor e usada no atentado contra o deputado federal
GUILHERME LEITE/AGÊNCIA O GLOBO Autor. O servente de pedreiro Adelio Bispo de Oliveira, de 40 anos, é preso em flagrante após atacar Bolsonaro em Juiz de Fora; ao lado, a faca encontrada com o agressor e usada no atentado contra o deputado federal

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