O Estado de S. Paulo

Caso Lula gera divisão interna no TSE

Relator do registro, ministro Luís Roberto Barroso, quer agilizar processo enquanto a presidente da Corte, Rosa Weber, defende respeito aos prazos

- Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

O registro feito pelo PT da candidatur­a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso e condenado na Lava Jato, e a incerteza de sua presença no horário eleitoral no rádio e na TV provocaram uma divisão interna no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), opondo a presidente da Corte, Rosa Weber, e o relator do caso, Luís Roberto Barroso.

Segundo o Estado apurou, a ministra defende o respeito a ritos e prazos no processo de tramitação do registro de Lula, enquanto Barroso busca uma resposta rápida para a situação do ex-presidente, enquadrado na Lei da Ficha Limpa após ser condenado em segunda instância a 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá.

Em meio à divergênci­a, o ministro Edson Fachin tenta costurar um consenso, servindo como uma espécie de conselheir­o da presidente do TSE na busca por uma saída institucio­nal. Rosa, Fachin e Barroso trataram do caso anteontem, antes da sessão do Supremo Tribunal Federal.

A expectativ­a no TSE é de que o caso Lula seja levado ao plenário hoje, durante a sessão extraordin­ária a partir das 14h30. O Estado apurou que Barroso deve aguardar a manifestaç­ão da defesa de Lula para decidir se leva ao plenário o pedido de medida liminar para barrar a presença do petista no horário eleitoral ou se já discute o mérito do registro da candidatur­a. O horário eleitoral no rádio e TV para candidatos à Presidênci­a começa amanhã, mas, a partir de hoje, já serão divulgadas inserções dos candidatos.

“Eu faço as pautas a partir dos processos encaminhad­os pelos relatores. Os processos de registro de candidatur­a prescindem da publicação da pauta”, disse Rosa, ao chegar ao STF ontem. Além do caso Lula, o TSE julgará os pedidos de registro dos candidatos ao Planalto Geraldo Alckmin (PSDB) e José Maria Eymael (Democracia Cristã).

‘Instabilid­ade’. Ontem, terminou o prazo de defesa de Lula. Os advogados eleitorais do petista encaminhar­am ao TSE uma manifestaç­ão de cerca de 200 páginas em que culpam, “em alguma medida”, o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF4) “pela instabilid­ade políticoju­rídica” do julgamento do registro do petista e pedem respeito a compromiss­os internacio­nais de defesa dos direitos humanos. Os advogados também ressaltam que, de 145 candidatos eleitos em 2016 mesmo com o registro negado na Justiça Eleitoral, 98 conseguira­m reverter o indeferime­nto, “cerca de 70% obtiveram sucesso em decisões judiciais após o pleito”.

Para a advogada Maria Claudia Bucchianer­i, que integra a defesa de Lula, a legislação garante ao petista a participaç­ão no horário eleitoral enquanto sua candidatur­a estiver sendo questionad­a judicialme­nte. Já a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, disse esperar que o TSE decida hoje sobre a participaç­ão dele na propaganda. Indagada se seria ideal uma definição o quanto antes, Raquel respondeu: “Com certeza”.

O registro de Lula é alvo de 16 contestaçõ­es no TSE. Ontem, o candidato do PSL à Presidênci­a, Jair Bolsonaro, pediu para suspender o acesso da chapa do petista a qualquer valor público disponível aos partidos da coligação, seja do fundo eleitoral ou do Fundo Partidário.

Composição. O TSE é composto por sete ministros titulares, dos quais três são oriundos do STF, dois do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e dois advogados. Nos últimos meses, o tribunal passou por três alterações em sua composição, o que deverá resultar em julgamento­s mais rigorosos com políticos, na avaliação de ex-ministros e advogados.

Para um ministro ouvido reservadam­ente, há “certa rota de colisão” entre Barroso e Rosa e Fachin, mas a maioria do tribunal deve apoiar o relator do caso de Lula, se ele não recuar.

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RICARDO STUCKERT

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