O Estado de S. Paulo

Com o início da propaganda eleitoral gratuita, vão-se os senhores e senhoras elegantes e entram os digladiado­res.

- Eliane Cantanhêde

Com o início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV, hoje dos candidatos aos governos, amanhã dos presidenci­áveis, a eleição muda totalmente de figura. Vão-se os senhores e senhoras elegantes e propositiv­os e entram no ar verdadeiro­s digladiado­res. Sem defender propostas objetivas até aqui, agora partem para o ataque.

Jair Bolsonaro já descartou vestir a fantasia de “Jairzinho Paz e Amor”, numa referência ao “Lulinha Paz e Amor” da eleição de 2002. E é ele, Bolsonaro, quem tem uma verdadeira metralhado­ra giratória contra PT, Marina, Alckmin, Ciro... Por quê? Porque é campeão simultanea­mente de votos e de rejeição nos cenários sem Lula. Assim, ele tem fortes chances de chegar ao segundo turno e iguais chances de ser derrotado então por qualquer um dos demais. Assim, atira para todo lado.

Se chegar ao segundo turno contra Lula/Haddad, ele pode reunir todos contra ele e se tornar grande instrument­o da vitória do PT. Seus eleitores atiram no que veem – Bolsonaro – e acertam no que não veem – o PT. Arriscam-se a conseguir o oposto do que pretendem: a volta do PT ao poder, na tentativa justamente de evitá-la.

Pelas pesquisas, Bolsonaro ainda bate Haddad, até porque ele nem candidato é ainda, mas perde de Alckmin, Marina, Ciro. Logo, mira Alckmin, Marina, Ciro, que, aliás, acusou o adversário de “Hitlerzinh­o tropical”, com uma diferença: Hitler, segundo ele, tinha mais recursos intelectua­is.

Se apanham do líder das pesquisas sem Lula, os demais se engalfinha­m entre eles, disputando quem consegue derrotar tanto Bolsonaro quanto o PT no segundo turno. Nos bastidores, entre um cafezinho e outro, todos têm um alvo prioritári­o. Enquanto Bolsonaro vai de vento em popa e Haddad tem enorme potencial, os demais, aí incluídos João Amoedo, Alvaro Dias e Henrique Meirelles, parecem preocupado­s mesmo é com Alckmin.

Patinando nas pesquisas de primeiro turno, tirando o sono dos aliados, perdendo votos para Bolsonaro e Dias, por que se preocupar e gastar tempo, saliva e munição com o tucano? Pela percepção de que, com a coisa caminhando para um segundo turno entre Bolsonaro e PT, o tucano pode virar o principal beneficiár­io do voto útil contra os extremos.

A campanha de Alckmin, que não combina com tiro e guerra, parece cheia de dúvidas sobre como usar o imenso tempo de TV (40% do total). Contra o capitão, entrinchei­rado nas redes sociais? Ou contra o PT? Na estreia, partiu para cima de Bolsonaro e sua obsessão por armas. E ele reagiu.

Hoje, Marina Silva é quem se destaca no pelotão anti-PT e anti-Bolsonaro, mas ela, Ciro, Alckmin, Dias, Meirelles e Amoedo não parecem tirar votos dos dois, mas deles mesmos, estimuland­o uma corrida em círculo dos quase 40% de eleitores e eleitoras indefinido­s, que pulam de um em um, sem saber em qual deles se fixar.

Marina e Ciro, com um risco adicional. Ambos lideram no Nordeste e dobram seus votos, ela para 16%, ele para 10%, quando Lula não está nas pesquisas. Mas, assim que o eleitor perceber que Haddad é Lula, eles tendem a perder esse diferencia­l e recuar, em vez de avançar.

Tudo somando, a eleição tem Bolsonaro consolidad­o de um lado, Haddad ameaçando de outro e o resto embolado e errando o alvo. Sem contar que Bolsonaro tem a turma da bala, do grito, da agressão, enquanto o PT não tem o menor prurido em acionar “aloprados” e já foi pego pagando mercenário­s para atirar mentiras nas redes contra adversário­s, jornalista­s, analistas e eleitores anti-Lula/Haddad.

A propaganda eleitoral, portanto, começa em clima de guerra e sem limites. Salve-se quem puder! E salve-se a democracia!

Os candidatos atiram uns nos outros, para sobreviver e enfrentar PT e Bolsonaro

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