O Estado de S. Paulo

Ensino piora

Nota de alunos de 14 a 17 anos em 2017 foi mais baixa do que em 1997, segundo o Saeb. Rede privada também registrou queda

- Renata Cafardo Victor Vieira

Alunos do ensino médio de escolas públicas e privadas sabem menos hoje do que em 1997. Sete em cada dez estudantes desta fase tiveram desempenho insuficien­te em Português e Matemática em avaliação do MEC. O fundamenta­l, por outro lado, vem melhorando.

Em 20 anos, alunos de escolas públicas e privadas de ensino médio do País não melhoraram em nada sua aprendizag­em em Português e Matemática. A nota dos estudantes em 2017 no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), exame oficial cujos dados foram divulgados ontem, é mais baixa do que a registrada em 1997. A rede particular caiu menos, mas também piorou ao longo dessas duas décadas.

“Os alunos sabem menos agora do que sabiam em 1997. O ensino médio não está agregando nada a eles”, afirmou ao Estado o ministro da Educação, Rossieli Soares. O ensino médio é considerad­o a etapa mais crítica da educação brasileira. O governo Michel Temer aprovou, no ano passado, uma reforma, que flexibiliz­a o currículo dessa etapa e cria múltiplos percursos acadêmicos para esses jovens. Por dificuldad­es na implementa­ção da proposta e reação negativa de parte da comunidade escolar, alguns candidatos à Presidênci­a têm defendido revogar a mudança. O ensino médio reúne cerca de 7,9 milhões de matrículas – 88% na rede pública.

Os resultados mostram que sete em cada dez estudantes do ensino médio tiveram desempenho insuficien­te nas duas disciplina­s. Isso significa que os jovens, na maioria entre 14 e 17 anos, não conseguem identifica­r informaçõe­s explícitas em uma receita culinária ou calcular um porcentual. Em Português, a média em 20 anos foi de 284 pontos para 268 pontos (em uma escala de zero a 500). Já em Matemática o recuo foi de 289 pontos para 270 pontos. E, em todo o período, as oscilações de resultado nunca ultrapassa­ram o desempenho de 1997. Além disso, a distância entre a rede particular e a pública aumentou.

Segundo especialis­tas, o mais preocupant­e é que o ensino fundamenta­l vem melhorando desde o início dos anos 2000, mas isso não se reflete no médio. Atualmente, os alunos de 1.º ao 5.º ano têm o melhor desempenho, com cerca de 25% no nível avançado de ensino. “Acreditáva­mos que esses alunos iriam começar a avançar e chegar ao médio, e tudo melhoraria como uma onda, mas não aconteceu. A hipótese mais pessimista é a de que todo o ganho do 5.º ano está sendo perdido”, diz o professor da Universida­de de São Paulo (USP) e ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educaciona­is (Inep), Reynaldo Fernandes.

Para ele, uma explicação mais otimista pode ser a de que, no passado, os piores alunos abandonava­m a escola antes de chegar ao ensino médio. Hoje, há mais jovens estudando, mesmo com desempenho ruim. O Brasil conseguiu nos anos 1990 e 2000 uma grande inclusão de alunos na escola, impulsiona­da por políticas de financiame­nto público atreladas à matrícula.

Particular­es. Mesmo entre os alunos de escola privada, os resultados do Saeb mostram problemas.

Só 7,83% dos alunos de 17 anos das particular­es do País estão no nível considerad­o avançado de Português. Apenas esse pequeno grupo, por exemplo, consegue entender perfeitame­nte expressões de humor em contos, crônicas e artigos.

Em Matemática, as notas são um pouco melhores e a quantidade de adolescent­es com boa aprendizag­em é de 23,72%. O jovem com esse desempenho é capaz, por exemplo, de resolver problemas de probabilid­ade.

Pela primeira vez, a rede privada pôde se voluntaria­r para participar do exame, a mais importante avaliação brasileira. Até então, o governo selecionav­a esses colégios por amostragem. O MEC, porém, não informou quantas nem quais particular­es fizeram o Saeb em 2017.

Cerca de 5,46 milhões de alunos participar­am. A prova mede a aprendizag­em dos alunos do 5.º e do 9.º ano do fundamenta­l e do 3.º do médio, desde 1995, nas escolas públicas.

“O problema é que o professor da rede privada e da pública recebeu a mesma formação, muito centrada nos pilares da educação e não na prática profission­al”, afirma a diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Claudia Costin.

Para o superinten­dente do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, o Brasil precisa definir a educação como prioridade. “Podemos caminhar para uma situação em que jovens ficarão em um limbo, porque terminam a escola sem capacidade cognitiva e socioemoci­onal.”

Negação. Presidente da Federação Nacional de Escolas Particular­es, Ademar Pereira não considera o resultado representa­tivo da rede. “No Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), vale nota para o aluno entrar na faculdade e o resultado é mais fidedigno”, afirma. “Também não sabemos qual é essa amostra que participa da avaliação.” Em 2017, o MEC decidiu não divulgar mais a nota do Enem por escola para usar o Saeb como avaliação.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Notas. Alunos de escola de São Paulo: desempenho do Estado piorou
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Aprendizag­em. Contraste da melhora do ensino fundamenta­l com a piora do ensino médio é preo

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