Dólar dispara
Além da Argentina, que enfrenta crise e elevou juros a 60% ao ano, cenário eleitoral ajudou a pressionar cotação da moeda americana
O agravamento da crise na Argentina, que elevou os juros em 15 pontos, para 60%, e a tensão com a corrida eleitoral no Brasil fizeram o dólar chegar a R$ 4,21, à tarde. O Banco Central brasileiro interveio e a moeda americana terminou cotada a R$ 4,15.
Em um dia marcado por uma aversão global a ativos de países emergentes, o dólar chegou a ser cotado a R$ 4,21 ontem no Brasil. A moeda americana só perdeu força depois que o Banco Central, no início da tarde, injetou US$ 1,5 bilhão no mercado. Ainda assim, o dólar terminou o dia em alta de 0,84%, aos R$ 4,15.
Este é o maior valor para o dólar desde 21 de janeiro de 2016, quando fechou aos R$ 4,17. Nas casas de câmbio, o dólar turismo era vendido acima dos R$ 4,30.
Desde o início do dia, o dólar passava por forte pressão de alta ante as moedas de países emergentes. O alvo da vez dos investidores era a Argentina, que enfrenta grave crise em sua conta corrente e carência de dólares. E elevou os juros a 60 % ao ano para impedir a queda do peso.
Só que o desconforto em relação à Argentina e a outros emergentes não diminuiu. Tanto que o dólar seguiu em alta superior a 12% ante o peso argentino. No Brasil, o dólar à vista chegou a ser cotado aos R$ 4,21 no início da tarde, o maior valor desde 24 de setembro de 2015.
Além do problema externo, segundo operadores do mercado, a situação piorou no câmbio brasileiro após sondagem do DataPoder360 indicar que Fernando Haddad (PT-SP) pode herdar mais de 30% dos votos de Lula. Em meio ao “pânico”, como descreveram alguns profissionais do mercado, o Banco Central injetou US$ 1,5 bilhão no mercado, por meio de um leilão de swaps cambiais – um tipo de contrato cuja venda equivale à negociação de dólares.
Além disso, o próprio BC alertou, em nota divulgada em seu site, que está atento aos movimentos exagerados da moeda americana. “A intensidade e frequência das intervenções dependerão da dinâmica e das disfuncionalidades observadas no mercado”, disse a instituição. Em outras palavras, o BC deixou claro que novas intervenções podem ocorrer.
A oferta de US$ 1,5 bilhão, que não chega a ser elevada, foi o suficiente para o dólar se acomodar em patamares menores. Profissionais ouvidos pelo Estadão/Broadcast lembraram que, com a operação, o BC passou um aviso aos especuladores. Isso porque quem passou a manhã comprando dólares, esperando altas cada vez maiores, pode ter amargado prejuízos quando a cotação caiu em função do leilão do BC.
Para hoje, o BC já anunciou que fará dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra). Serão ofertados até US$ 2,15 bilhões, mas não se trata de dinheiro novo. A operação tem o objetivo de rolar os contratos que vencem em setembro para novembro e dezembro deste ano. É uma forma de o BC atuar no mercado, uma vez que, se não fosse feita a rolagem, a oferta de dólar seria reduzida na semana que vem, pressionando ainda mais o câmbio.
Juros e Inflação. O novo patamar do dólar, que subiu 25% no ano, já pressiona preços de produtos importados, como combustíveis, medicamentos e alguns alimentos. Para alguns economistas, a desvalorização cambial tem aumentado a possibilidade de estouro do centro da meta inflacionária deste ano e de 2019. A meta do BC é de 4,5% em 2018 e de 4,25% no ano que vem. “Quanto mais durar esse período de volatilidade, maior é a probabilidade de haver efeitos inflacionários”, diz o economista André Braz, pesquisador do Ibre/FGV. Os efeitos do câmbio sobre a inflação, no entanto, podem ser mitigados pela lenta retomada da economia.
Caso a pressão sobre o dólar continue elevada a ponto de afetar as estimativas inflacionárias, analistas acreditam que o BC pode dar início ao ciclo de elevação da taxa Selic mais cedo que o esperado, já neste ano e não em 2019. Ontem, as taxas dos contratos de juros futuros negociados na B3 já refletiam a perspectiva de inflação maior no futuro.
Barreira “A partir do momento em que o dólar rompeu os R$ 4, o mercado já esperava que o BC poderia entrar.”
Roberto Serra
SÓCIO DA ABSOLUTE INVESTIMENTOS.