O Estado de S. Paulo

27% dos investigad­os na Lava Jato declaram patrimônio menor

De 77 políticos envolvidos na operação e que tentam a reeleição, 21 registrara­m redução do valor dos bens; na outra ponta, 44 informaram aumento de patrimônio

- Breno Pires Julia Lindner / BRASÍLIA COLABOROU FELIPE FRAZÃO /

Levantamen­to feito pelo Estado com base nos dados informados pelos candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que, de 77 políticos que figuram como investigad­os na Lava Jato e tentam novo mandato, 21 registrara­m redução do valor total de seus bens em relação a eleições anteriores. Destes, oito informaram queda de mais da metade das cifras declaradas. Na outra ponta, 44 políticos declararam aumento de patrimônio, sendo que quase a metade apresentou valores nominais pelo menos 50% maiores. Em 12 casos, não houve variação. Foram considerad­os apenas valores nominais. As explicaçõe­s para ampliação ou queda nos valores dos bens declarados são diversas e incluem crise econômica, recebiment­o de herança, venda de imóveis, divórcio e dívida por empréstimo bancário. Para a Receita Federal, movimentaç­ões significat­ivas no patrimônio podem ser indício de irregulari­dades.

De 77 políticos que figuram como investigad­os na Lava Jato e se candidatar­am neste ano, 21 – pouco mais de um quarto – registrara­m redução do valor de seus bens em relação a eleições anteriores. Levantamen­to feito pelo Estado nos dados fornecidos pelos candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que, daquele total, oito informaram queda de mais da metade das cifras declaradas.

Na outra ponta, 44 políticos declararam aumento de patrimônio – quase a metade apresentou valores nominais pelo menos 50% maiores. Em 12 casos, não houve variação. Para a Receita, movimentaç­ões significat­ivas no patrimônio podem ser indícios de irregulari­dades. Foram considerad­os apenas valores nominais. Segundo analistas, não é possível corrigir declaraçõe­s de bens com base na inflação, pois a valorizaçã­o ou desvaloriz­ação de um imóvel, por exemplo, não seguem a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

As explicaçõe­s para ampliação ou queda nos valores declarados incluem crise econômica, recebiment­o de herança, venda de imóveis, divórcio e dívida por empréstimo bancário.

Investigad­o na Lava Jato por suposto repasse de R$ 200 mil da Odebrecht na eleição de 2010, o deputado Heráclito Fortes (DEM-PI) citou a venda de um avião para justificar a redução no patrimônio, que caiu de R$ 5,16 milhões, em 2014, para R$ 1,55 milhão declarado em 2018. “Diminuiu porque nunca roubei”, afirmou o parlamenta­r. A aeronave King AIR C9-GT, ano 2007, que constava na última candidatur­a, com o valor de R$ 3,78 milhões, foi retirada.

O deputado disse que ficou com metade do valor e que tudo foi informado à Receita. “Nunca fui questionad­o.” A investigaç­ão aberta inicialmen­te no Supremo Tribunal Federal foi enviada à Justiça Federal do Piauí. O deputado alega inocência.

‘Crise’. O senador Valdir Raupp (MDB-RO), réu na Lava Jato, é outro que declarou patrimônio menor neste ano. Ele tinha R$ 728,6 mil em 2010, a última vez que disputou eleição, e agora informou ter R$ 264,9 mil. O motivo, segundo ele, foi a crise. “Da mesma forma como a crise econômica atingiu milhares de brasileiro­s, o senador sofreu prejuízos financeiro­s motivando redução do seu patrimônio”, disse sua a assessoria.

A maior queda foi a do senador Benedito de Lira (PP-AL). Ele declarou R$ 723,2 mil em 2014, quando concorreu ao governo de Alagoas, e agora disse ter R$ 76,6 mil. Ele tenta se reeleger ao Senado. O parlamenta­r teve bens bloqueados em uma ação de improbidad­e ligada à Lava Jato e está recorrendo no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região.

No Supremo, Lira foi alvo de duas denúncias na Lava Jato, uma arquivada e a outra – a do “quadrilhão do PP” – ainda não julgada. “Esse é um assunto que eu não vou discutir, porque a minha declaração de Imposto de Renda está na Receita”, afirmou Lira à reportagem, desligando o telefone em seguida.

No sentido inverso está o senador

e presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), também denunciado no “quadrilhão do PP”. Seu patrimônio cresceu mais de 1.000% em oito anos, em valores nominais. Saiu de R$ 1,9 milhão, em 2010, para R$ 23,3 milhões neste ano, quando tentará a reeleição. A justificat­iva é uma herança deixada pelo pai, além de negócios “bem-sucedidos” não especifica­dos.

Outros candidatos que informaram à Justiça Eleitoral patrimônio­s menores foram o líder do governo no Senado e presidente do MDB, Romero Jucá (RR), em 68%, o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (MDB-AL), em 14%, o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), em 24%, e o senador Humberto

Costa (PT-PE), em 41% – todos tentam reeleição.

Jucá disse que não comentaria sua declaração, apresentad­a, segundo ele, conforme exigência da lei. Costa afirmou que sua variação patrimonia­l se deve à separação conjugal e à venda de um veículo. Disse ainda que não houve transferên­cia, doação ou venda de bens para familiares e que o fato de ser investigad­o não teve impacto na gestão de patrimônio.

Receita. O subsecretá­rio de Fiscalizaç­ão da Receita, Iágaro Jung Martins, afirmou que o aumento de patrimônio sem que haja uma renda para suportar aquela variação pode atrair a atenção do órgão. “Temos uma equipe de auditores para detecção de fraudes de agentes públicos. Esses auditores se debruçam para analisar a variação patrimonia­l e, quando há indício de que a origem do recurso que deu suporte à variação patrimonia­l não é recurso lícito, a Receita autua também”, disse.

A Receita já autuou 67 pessoas investigad­as na Lava Jato após identifica­r algum indício de irregulari­dade. Em termos de valores, elas respondem a um total de R$ 257.322.393,57 em ações autuadas na Receita até 12 de junho. O órgão não informa os nomes das pessoas.

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO *POLÍTICOS ALVO DE INQUÉRITOS NO ÂMBITO DA OPERAÇÃO LAVA JATO, INCLUINDO O CASO ODEBRECHT; NÃO FORAM CONSIDERAD­OS POLÍTICOS CUJOS CASOS FORAM ARQUIVADOS POR DECISÃO MONOCRÁTIC­A; **VARIAÇÃO MENOR DO QUE 5% A MAIS OU A MENOS
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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-17/8/2016 Lira. Senador teve a maior queda de patrimônio

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