O Estado de S. Paulo

As condições para o superávit

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Areversão de déficit para superávit primário só ocorrerá, na melhor hipótese, em 2022. E essa hipótese considera novas regras previdenci­árias em 2020.

Se subsídios e subvenções fiscais forem substancia­lmente reduzidos, se medidas de reforma previdenci­ária que permitam a redução de seu déficit forem aprovadas já em 2019, se a economia crescer do modo esperado, se a inflação continuar contida, o próximo governo terá condições de cumprir o teto de gastos nos dois primeiros anos de mandato. Mas é muito pouco provável que, mesmo fazendo o que precisa ser feito para conter a séria crise fiscal que tolhe os serviços e os investimen­tos públicos, o próximo governo consiga eliminar o déficit primário em 2020. Há candidatos à Presidênci­a da República que se compromete­ram a equilibrar as contas primárias na primeira metade do mandato, mas é pouco provável que a promessa seja cumprida. Na hipótese mais otimista – que leva em conta a resolução de problemas que podem resultar em aumento extraordin­ário de gastos –, o superávit primário do governo federal só surgirá em 2022, último ano do mandato do presidente a ser eleito em outubro.

Essas são algumas das previsões no número 19 do Relatório de Acompanham­ento Fiscal, estudo elaborado regularmen­te pela Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI), vinculada ao Senado Federal. Há alguma melhora nas projeções em relação a estudos anteriores, mas, como afirma o estudo, “o quadro fiscal brasileiro continua desafiador”.

É uma forma polida de se referir à grave crise financeira do setor público, que pode compromete­r a prestação de serviços públicos essenciais, caso não sejam tomadas providênci­as urgentes. O problema não parece, porém, preocupar a maioria dos que pretendem ocupar a Presidênci­a da República a partir do dia 1.º de janeiro de 2019. Mesmo os que tratam a crise fiscal com alguma seriedade não apontam os meios com os quais buscarão o indispensá­vel equilíbrio entre receitas e despesas.

No Relatório anterior, a IFI advertia que era elevado o risco de o governo não conseguir cumprir, já em 2019, o teto de gastos instituído pela Emenda Constituci­onal n.º 95, de 15 de dezembro de 2016. No estudo que acaba de ser divulgado, o teto poderá ser cumprido nos próximos dois anos mesmo sem alterações importante­s nos gastos obrigatóri­os, admitindo-se que o novo quadro político seja propício à aprovação de algumas reformas estruturai­s e as despesas não sejam afetadas pela decisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal de propor aumento de 16,38% de seus vencimento­s. Isso porque – diz o Relatório de agosto – a inflação ficou mais elevada do que o previsto até junho, o que favorece as receitas imediatame­nte, mas as despesas só serão afetadas pela inflação futura, que deverá ser menor do que a corrente. Assim, “o teto tem condições de ser cumprido nos próximos anos”, mas “com risco maior de rompimento em 2020”. Ou seja, apesar de fazer projeções mais otimistas, o estudo continua a apontar para a gravidade da situação.

Mesmo com a atualizaçã­o dos cenários, a reversão de déficit para superávit primário – cuja obtenção é indispensá­vel para que a dívida do governo federal comece a ser reduzida e deixe de representa­r ameaça à estabilida­de fiscal futura – só ocorrerá, na melhor hipótese, em 2022. Essa hipótese, que compõe o cenário otimista, considera a vigência de novas regras previdenci­árias em 2020.

Também tem como premissa a evolução do salário mínimo de acordo com a inflação do ano anterior, sem mais levar em conta a variação real do PIB de dois anos antes, como ocorre atualmente. Os gastos com pessoal, por sua vez, não terão cresciment­o real. Como as despesas com saúde e educação, também as com o funcionali­smo serão corrigidas apenas pela inflação.

O tempo para as reformas essenciais ao equilíbrio das contas públicas é curto, diz o Relatório: “Não obstante o risco de descumprim­ento (do teto) em 2020 seja elevado, os dados mostram que há uma janela superior a 12 e inferior a 24 meses para a condução de mudanças com efeito relevante sobre o gasto obrigatóri­o primário”. Seria bom para o País que os candidatos à Presidênci­a tomassem consciênci­a disso.

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