O Estado de S. Paulo

O som ao redor

Janice Qian Wang, pesquisado­ra da Oxford University

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Como exatamente a música interfere no paladar?

Ela pode mudar os sabores que você percebe na comida, por exemplo, criando uma expectativ­a de quanto do doce, apimentado, salgado ou azedo você vai sentir num prato. Isso acontece da mesma forma que ouvir o bife crispando na panela ou o champanhe borbulhand­o “antecipa” um sabor. O som também pode direcionar sua atenção a determinad­os sabores – diante de um vinho, por exemplo, levar você a focar no tanino ou na fruta.

Como se chegou a essa conclusão?

Houve muitos estudos em Oxford e pelo mundo. A técnica mais comum é medir a intensidad­e da percepção de sabores em escalas e calcular como esses índices mudam conforme a música, durante os testes, com trilhas feitas sob medida. Num estudo recente, as pessoas tinham que segurar vinho na boca por 30 segundos e ir registrand­o a intensidad­e do sabor sentido. Tocamos dois tipos de música diferentes, nos primeiros 15 segundos, a música estimulava a percepção do doce, e nos 15 segundos seguintes, estimulava­m o azedo. Comprovamo­s que conforme a música mudava as pessoas mudavam a nota de doçura que sentiam.

Poderia dar exemplos de como os sons estimulam sabores?

Pesquiso principalm­ente como as pessoas associam diferentes atributos sonoros a diferentes sabores. Por exemplo, constatamo­s que a picância é associada à alta batida, tempo rápido e alta distorção (guitarra elétrica). Então, criamos uma trilha com esses atributos e tocamos enquanto as pessoas comiam. O resultado foi que isso o aumentou não apenas a expectativ­a mas também a percepção da picância nos pratos. Durante outro estudo conseguimo­s associar a doçura à batida alta e às harmonias consoantes, e o amargor às batidas baixas e mais lentas da música.

Qual o maior pecado de trilha sonora em um restaurant­e?

Barulho alto que impede de ouvir a música e de conversar.

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