O Estado de S. Paulo

TCU proíbe OAS de fazer contratos com o governo

Sanção, por formação de cartel e fraudes em licitação de refinaria, vale por 5 anos; construtor­a alega estar negociando acordo de leniência com a CGU

- Breno Pires / BRASÍLIA

O Tribunal de Contas da União (TCU) aplicou ontem uma sanção que impede a construtor­a OAS de fazer novos contratos com a administra­ção pública federal pelos próximos cinco anos, por formação de cartel e fraudes em licitação em contratos de obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, apuradas na Operação Lava Jato. Cabe recurso no próprio TCU.

Em recuperaçã­o judicial, a empresa também ficará impedida de participar de licitações de governos estaduais e municipais se elas tiverem recursos federais envolvidos. Os contratos que já estão em vigência poderão seguir normalment­e.

A empresa alegou que, por estar negociando acordo de leniência com a Controlado­ria-Geral da União (CGU), deveria ser poupada de tal punição. “A OAS tem direito de que o órgão competente, CGU, se pronuncie acerca do acordo de leniência antes de haver a conclusão nessa casa do processo sancionató­rio com a possível aplicação da pena de inidoneida­de”, defendeu o advogado no julgamento. Os ministros descartara­m tal argumento por unanimidad­e.

O relator, ministro Benjamin Zymler, apontou que a empreiteir­a não assinou acordo até agora, não reconheceu débito no TCU e não trouxe informaçõe­s para que o tribunal calculasse o sobrepreço das obras. Além disso, outras empresas prestaram anteriorme­nte informaçõe­s que comprometi­am a OAS.

“No caso de Abreu e Lima, várias empresas já apresentar­am informaçõe­s. Essa é uma peça em que já reconhecem­os todo o enredo. Dificilmen­te, seria possível ter um acordo de leniência sobre a OAS em relação a esse assunto. Até porque a lei prevê que só a primeira empresa a prestar informaçõe­s sobre o caso pode obter o acordo”, afirmou o relator.

Zymler disse que, se a mera negociação fosse levada em conta em todos os casos, o tribunal ficaria de mãos atadas e não poderia aplicar as sanções de inidoneida­de, como são chamadas as proibições de contratar com o poder público. “Se a tese da OAS fosse um imperativo categórico e tomássemos como máxima universal, o tribunal ficaria tolhido de analisar e declarar inidoneida­de. O TCU ficaria esperando eternament­e que essas tratativas pudessem se encerrar.”

A OAS afirmou que estava passando por dificuldad­es financeira­s e informou que, dos 123 mil funcionári­os que tinha em outubro de 2014, passou a ter 18 mil em julho de 2018. “Ainda é uma grande empresa que merece a atenção do tribunal em atenção à sua representa­ção econômica. Mas sofreu grande transforma­ção. Hoje, se o TCU declarar inidoneida­de, vai se referir à empresa do passado, de novembro de 2014, mas não tem como conhecer a OAS de julho e agosto de 2018, esta que vai ser retratada no acordo de leniência”, disse o advogado.

Também na Lava Jato, por irregulari­dades na Usina de Angra 3, em julgamento de 2017, foram considerad­as inidôneas Queiroz Galvão, UTC Engenharia, Empresa Brasileira de Engenharia e Techint Engenharia e Construção. Nesse julgamento, Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez escaparam da punição porque tinham acordo de leniência firmado com o Ministério Público Federal no Paraná. Em julho, a Odebrecht assinou com a CGU e a AGU. A Engevix também foi declarada inidônea por irregulari­dades em Angra 3.

Em nota, a OAS afirmou que recorrerá da decisão do TCU.

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