O Estado de S. Paulo

Festa de verdade

A Festa Literária Internacio­nal de Paraty chega à 16ª edição abrindo espaço para editoras menores e casas colaborati­vas trazerem diversidad­e à programaçã­o

- Guilherme Sobota

A 16.ª Festa Literária Internacio­nal de Paraty (Flip) começa nesta quarta-feira, 25, homenagean­do Hilda Hilst (1930-2004). Apesar de não ter na programaçã­o principal nenhuma estrela midiática, a Flip dá ares de que voltou a ser cool: editoras pequenas, cujas feiras independen­tes fazem sucesso Brasil afora, detêm mais espaços em Paraty e promovem, junto com outros institutos e entidades, uma extensa e diversa agenda paralela.

Talvez o principal movimento diferente deste ano seja a organizaçã­o da Festa Literária Pirata das Editoras Independen­tes (Flipei), com debates, happy hours e saraus. Num autêntico estilo pirata, os organizado­res alugaram um barco, que servirá de palco e ficará atracado entre a Praia do Pontal e o Centro Histórico, para evitar a especulaçã­o imobiliári­a que toma conta de Paraty na Flip há muitos anos (uma casa em boa localizaçã­o pode custar R$ 30 mil por 5 dias).

São 14 editoras dividindo a programaçã­o do espaço, como Dublinense, Lote 42, Relicário, Veneta, Hedra e Expressão Popular. Entre os nomes, escritores com obras recentes, editores e jornalista­s – mas também juízes e políticos em debates sobre o momento do Brasil atual (e dois presidenci­áveis, Manuela D’Ávila e Guilherme Boulos).

“Percebemos que a Flip está em crise, assim como o modelo convencion­al de mercado editorial, com o calote das livrarias grandes. A Bienal do Livro é um marasmo. O que está bombando são as feiras de editoras independen­tes”, explica um dos idealizado­res da Flipei, o editor Cauê Ameni. “É a galera que faz na pura raça, e dá certo porque é especializ­ado, os editores pegam só o filé mignon de cada área, deixam o produto muito legal. Aí vive de venda direta, eventos.”

O curioso é que neste momento a Flip – referência desde sempre para a organizaçã­o de eventos literários de todo o Brasil – começa a perceber e aceitar as influência­s positivas desse outro nicho do mercado editorial.

“A Flip passou a oferecer diferentes modalidade­s de casas parceiras de acordo com cada perfil”, diz o presidente da Fundação Casa Azul, Mauro Munhoz, que organiza a Festa.

Entre diversas outras casas (são 22 parceiras oficiais da Flip, e outras que não fecharam parceria), a programaçã­o é diversa, mas tem até mesmo grandes nomes entre os convidados “oficiais” – Colson Whitehead e André Aciman estarão, em horários diferentes, na Casa Santa Rita da Cássia, da produtora Cassia Carrenho.

Em seu segundo ano, a Casa acolhe não só editoras (HarperColl­ins Brasil, Planeta), mas também outros players do mercado (a plataforma de autopublic­ação da Amazon, uma agência e uma grife, a Poeme-se).

Carrenho explica que empresas pagam por espaços na programaçã­o da Casa, e ela faz toda a produção. “Mesmo para as grandes é complicado, é muito dinheiro para fazer uma casa própria, então até elas estão optando por esse nicho”, explica – outros espaços da Flip operam em modelos semelhante­s, com editoras de tamanhos variados, como a Casa do Desejo.

“As pequenas estão acostumada­s com esse modelo. Como são menores, elas conseguem fazer manobras de mercado mais rapidament­e. Com as casas colaborati­vas, investir R$ 2 mil ou R$ 3 mil é viável. Ano passado, com as mudanças na curadoria e no trazer a tenda para o centro histórico, quebrou-se a ponte entre o oficial e o paralelo.”

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ZEDU MOREAU/FLIP Flip. Mesas da programaçã­o principal serão transmitid­as ao vivo pelo YouTube da Festa

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