Antero Greco
A fatura do estilo espetaculoso de Neymar chegou: ele ficou fora da lista dos melhores do ano.
Estava disposto a descer a ripa numa orientação da Comissão de Arbitragem da CBF, a que sugere punir com cartão amarelo jogador que se exceder na comemoração de gol. Norma besta, antítese da celebração no futebol, levada a exageros por apitadores dispostos a mostrar trabalho pros chefes.
A ponto de verem comportamento incorreto na alegria de Lucas Lima e Moisés, do Palmeiras, e Luan, do Atlético-MG, em jogos recentes. O primeiro e o terceiro foram advertidos por gestos de provocação contra torcidas rivais; o segundo por atrasar reinício de partida. Zelo desmedido e que não encontra paralelo, por exemplo, em divididas violentas.
Mas não dá para estender-me a respeito do tema, pois a Fifa não permite. Eis que a entidade suprema jogou assunto mais palpitante nesta terça-feira, ao divulgar a lista de dez candidatos ao prêmio de Melhor Jogador do Ano. A cerimônia será em setembro e prevê comendas também para jogadores e treinadores de times masculinos e femininos. A badalação habitual.
A novidade nesse concurso é a ausência de Neymar no grupo seleto. Bola mais ou menos cantada. O astro brasileiro não teve temporada regular no PSG, ao ficar fora de combate por quase quatro meses por fratura no pé. Ainda assim, foi importante na conquista do título francês e teve desempenho aceitável na Liga dos Campeões.
No entanto, o que pesou contra o 10 da seleção foi o Mundial. Jogo aberto: mais do que o torneio o conceito dele caiu na mesma proporção das roladas mirabolantes a cada falta sofrida em campos russos. A torrente de críticas desaguou na exclusão atual. O estilo espetaculoso nos trancos que recebeu de zagueiros agora mostra a fatura.
Tal escolha não segue critérios científicos, nem de longe, e o aspecto subjetivo entra em ação pra valer. Mais ou menos como em concurso de Miss Universo; a moça coroada é linda, mas não necessariamente a mulher mais bonita do mundo. Tem valor simbólico. Há garotas fora de série em todo canto, assim como há boleiros extraordinários nem sempre com talento reconhecido.
Neymar não é Pelé – e diria, hoje, nem alcançou status de Romário, Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho, para ficar em quatro “R” campeões e que ao menos uma vez levaram o troféu. Mas, aqui entre nós, não está abaixo de Griezmann, Kane, Varane, para citar três dos integrantes do topo 10. Uma pitada de má vontade aparece aí.
Justiça se faça: Neymar contribuiu para isso. A técnica, a criatividade, a habilidade, que acumula a perder pelo ladrão, ficam em segundo plano pela imagem que construiu. A saída do Barcelona não foi das mais serenas; restou mágoa no antigo clube; a convivência no PSG não parece das melhores, e incidentes com Cavani e o demissionário técnico Emery atestam a existência de rusgas. Para entornar o caldo, os episódios de quedas cinematográficas.
Neymar tem futebol de sobra, insuficiente por ora para sobressair ao estilo de vida, dentro e fora dos gramados. Está evidente a necessidade de uma repaginada, com o perdão do termo. De preferência, sem participação do pai. Neymar sênior exerce papel imprescindível no sucesso do filho e jamais se colocaria em dúvida o amor dele. Pode ser hábil em finanças, porém um desastre na gestão da figura do pupilo. Não faz sentido, diante de críticas, dizer que não vale a pena mexer em algo que tem dado certo. Seria benéfico ficar à sombra.
Neymar, o Júnior, paga a conta de seu temperamento e se depara com desafio de superar rejeição. Nada me tira da cabeça, porém, que exista dose de preconceito com ele – e de nossa parte. Incomoda ver um moço a cometer mesmas tolices de tantos milhões iguais a ele, mas cheio da grana. O “exibicionismo” dele é desejo secreto de muitos anônimos, que o Destino faz só roerem as unhas.
Neymar fica fora da lista dos 10 melhores por ano instável e por críticas recebidas na Copa