O Estado de S. Paulo

Hidrelétri­ca Jirau tem recursos para honrar compromiss­os apenas até agosto

No limite. De acordo com o presidente da concession­ária, que administra usina de 3.750 MW no Rio Madeira, companhia precisará de aporte de R$ 450 milhões dos sócios a partir dessa data para não ficar inadimplen­te no mercado; usina ficou pronta no ano pass

- Renée Pereira

Concluída no início de 2017, a Hidrelétri­ca Jirau, no Rio Madeira, enfrenta grave crise financeira. A concession­ária Energia Sustentáve­l do Brasil (ESBR), que administra a usina, tem dinheiro para bancar os compromiss­os só até agosto. A partir dessa data, os sócios terão de aportar cerca de R$ 450 milhões para a empresa não ficar inadimplen­te, diz o presidente da ESBR, Victor Paranhos.

A conta poderá subir por causa do risco hidrológic­o. Trata-se do GSF (sigla em inglês para Generation Scaling Factor), mecanismo que mede quanto as usinas geraram abaixo do volume contratado. No período seco, com menos água nos reservatór­ios, as hidrelétri­cas produzem abaixo do previsto e são obrigadas a ir a mercado comprar energia para cobrir o contrato.

De 2014 para cá, Jirau já gastou R$ 1 bilhão para cobrir esse déficit – fator que tem provocado desequilíb­rio no setor elétrico. “Essa conta foi paga com aportes de recursos dos sócios, pois hoje nosso fluxo de caixa é negativo”, explica Paranhos.

Neste ano, a empresa terá de pagar R$ 1,2 bilhão de financiame­nto ao Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), R$ 700 milhões de Tarifa de Uso do Sistema de Transmissã­o (Tust) e cerca de R$ 470 milhões de GSF. “Basta olhar para nosso fluxo de caixa para entender a situação a empresa”, diz o presidente da ESBR – empresa formada pela franco-belga Engie, a japonesa Mitsui e as estatais Chesf e Eletrosul, do grupo Eletrobrás.

Por causa da necessidad­e de aportes, a estrutura de capital da concession­ária se inverteu. Inicialmen­te, 70% dos recursos vinham do BNDES e 30% dos sócios. Hoje, essa proporção é de 48% e 52%, respectiva­mente.

Perdas. A construção da hidrelétri­ca foi tumultuada desde o início do projeto, em 2009, com uma série de paralisaçõ­es. Num dos conflitos, o canteiro de obras foi praticamen­te destruído. Na época, trabalhava­m no empreendim­ento cerca de 18 mil pessoas, que ficaram paradas durante meses até o alojamento ser reconstruí­do.

Esses entraves ajudaram a elevar o valor da obra, que começou com R$ 9 bilhões e terminou em R$ 20 bilhões. Esse aumento dos investimen­tos também foi decorrente da expansão da capacidade da usina, de 3.300 MW para 3.750 MW.

Mas, segundo Paranhos, uma parte dessa expansão foi comprometi­da pela mudança no projeto da Hidrelétri­ca de Santo Antônio, no mesmo rio. “Com o aumento da cota do lago de Santo Antônio de 70,5 metros para 71,3 metros, Jirau perdeu 91 MW de sua geração”, diz o executivo. Isso equivale a R$ 180 milhões por ano que a empresa deixou de faturar desde 2016. O assunto deverá ser discutido com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Taxa. Outro ponto que precisa ser revisto, diz o executivo, refere-se ao custo do financiame­nto do BNDES. Nesse caso, quem está à frente das discussões é o Instituto Acende Brasil e envolve todas as grandes hidrelétri­cas leiloadas no passado. O argumento é que as empresas levaram em conta um juro subsidiado para dar lances nos leilões. Os contratos eram corrigidos pela TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), transforma­da pelo atual governo em TLP – mais próxima das taxas de mercado.

Na outra ponta, no entanto, os contratos de venda de energia são corrigidos pela inflação, que está em queda no Brasil.

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NOAH FRIEDMAN-RUDOVSKY/THE NEW YORK TIMES-27/4/212 Agravante. Aporte a ser feito pelos sócios da Hidrelétri­ca Jirau, no Rio Madeira, pode subir em função do risco hidrológic­o

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