O Estado de S. Paulo

Pré-candidatos à Presidênci­a se dividem sobre a greve

- Gilberto Amendola

Os presidenci­áveis têm evitado, até o momento, críticas diretas aos caminhonei­ros e ao movimento que tem bloqueado estradas e causado interrupçã­o no abastecime­nto das principais cidades do País. A maioria dos pré-candidatos tem preferido olhar a situação sob a perspectiv­a dos seus próprios discursos ou eleitorado.

O deputado Jair Bolsonaro (PSL), por exemplo, postou um vídeo nas suas redes sociais em que afirma “que o movimento dos caminhonei­ros mostra as entranhas do poder” e “como o povo é assaltado em benefício de uma casta política”. No fim de seu discurso, contudo, ao parabeniza­r os caminhonei­ros, Bolsonaro pediu para que eles não bloqueiem estradas, dizendo que quem está fazendo isso “são infiltrado­s do PT, MST e CUT”. Até o momento, não há registro de participaç­ão de nenhuma dessas entidades nos bloqueios.

Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D’Avila (PCdoB) manifestar­am-se de maneira parecida. Os dois pediram a demissão do presidente da Petrobrás, Pedro Parente. “O que estamos vendo hoje no Brasil é resultado da política desastrosa de Temer e Pedro Parente na Petrobrás. Empresa pública tem de servir ao povo brasileiro e não para dar lucro a meia dúzia de acionistas lá fora”, escreveu Boulos em sua conta de Twitter. Manuela também culpa Parente e prega “a retomada nos investimen­tos no setor de óleo e gás.”

Já o candidato do PSDB à Presidênci­a, Geraldo Alckmin, defendeu a permanênci­a de Parente durante palestra no IBMEC (Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais), na quinta-feira. Ontem, Alckmin afirmou que as demandas dos caminhonei­ros podem ser justas, mas não devem prejudicar o resto da população. O tucano não ataca diretament­e o governo, mas diz que é preciso “autoridade” para resolver o problema.

Se Alckmin prefere não atacar diretament­e Temer, Ciro Gomes (PDT) segue uma linha diferente. Ontem, após participar de um almoço com empresário­s do Instituto Desenvolvi­mento para o Varejo (IDV), na capital paulista, ele responsabi­lizou a política de preços da estatal pela situação que levou ao bloqueio de rodovias no Brasil. Gomes defendeu a demissão de Parente da empresa e uma mudança nas regras atuais que reajustam o preço dos combustíve­is . “Política de preços no Brasil é uma fraude”, disse.

Apoio. O pré-candidato do MDB ao governo, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, colocou-se ao lado do governo. “A curto prazo, a única alternativ­a é seguir o acordo feito pelo governo e as entidades mais representa­tivas dos caminhonei­ros. É inaceitáve­l que, além dos problemas graves e reais dos preços do petróleo e derivados, haja um componente político-ideológico e empresaria­l nessa aliança de entidades politicame­nte engajadas com empresas transporta­doras”.

Com discurso liberal, os candidatos Flávio Rocha (PRB) e João Amoedo (Novo), identifica­m no livre mercado a solução para o problema envolvendo os caminhonei­ros. “A solução é um choque de competição, o que leva mais eficiência e coíbe, naturalmen­te, a corrupção”, disse Rocha. “A solução para o setor é o aumento da concorrênc­ia, que leva a menores preços e melhores produtos”, falou Amoedo.

Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), afirmou que colocará em votação o projeto de regulament­ação do transporte de cargas. Maia também defendeu que o governo reduza a alíquota dos dois tributos de R$ 0,46 por litro para R$ 0,29.

Já o economista responsáve­l pelo programa do PT, Márcio Pochmann, disse que as circunstân­cias da crise com os caminhonei­ros “decorre de opções que foram tomadas há mais tempo”, referindo-se à adequação dos preços internos às cotações internacio­nais e a do congelamen­to dos preços, adotado no governo de Dilma Rousseff. “Acredito que precisamos trabalhar no meio termo.”

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