O Estado de S. Paulo

Acordo fracassa e governo chama as Forças Armadas

Além de editar decreto para atuação do Exército, governo estuda se apropriar de caminhões; liminar do STF permite ‘uso de força’, se imprescind­ível

- Julia Lindner Tânia Monteiro Eduardo Rodrigues /BRASÍLIA / COLABORARA­M VERA ROSA, BRENO PIRES, TEO CURY E ROBERTO GODOY

O governo chamou as forças federais de segurança, que incluem as Forças Armadas, para desbloquea­r as estradas depois que a trégua de 15 dias prometida pelos movimentos grevistas não foi cumprida. Após o anúncio do presidente, a principal entidade contrária ao acordo pediu que os motoristas liberassem as rodovias. À noite, ainda restavam 519 de 938 pontos de bloqueios no País. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou o uso de força e a imposição de multas a manifestan­tes nas estradas.

Diante da situação de desabastec­imento em diversos pontos do País com a paralisaçã­o dos caminhonei­ros, o presidente Michel Temer editou ontem um decreto para autorizar a atuação do Exército em Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para todo o território nacional até o dia 4 de junho.

As operações de GLO são realizadas exclusivam­ente por ordem expressa da Presidênci­a da República e ocorrem nos casos em que há esgotament­o das forças tradiciona­is de segurança pública, em situações graves de perturbaçã­o da ordem. A GLO é regulada pela Constituiç­ão Federal e concede aos militares a faculdade de atuar com poder de polícia até o restabelec­imento da normalidad­e.

Mesmo após acordo feito entre o governo e caminhonei­ros, na quinta-feira, a avaliação é que a diminuição dos bloqueios nas estradas será lenta e deverá se estender pelos próximos dias. Dados da Polícia Rodoviária Federal concluíram que o País chegou a ter até 938 interrupçõ­es parciais em estradas na última semana. Dessas, 419 foram liberadas desde o acordo, e restaram 519.

Na manga, o governo também tem uma opção considerad­a mais grave, que seria editar outro decreto para permitir a requisição de bens. Neste caso, se for necessário, o poder federal poderia se apropriar do caminhão com a justificat­iva de assegurar o abastecime­nto de itens básicos para a população. Depois, devolveria o veículo.

O foco da ação de requisição de bens, de acordo com o governo, são empresas que se negaram a permitir motoristas de levar cargas, mesmo com a escolta garantida pela Polícia Rodoviária Federal. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, ressaltou que a negociação com os caminhonei­ros está encerrada e agora o foco é o cumpriment­o do acordo fechado na quinta. Atuação. No Palácio do Planalto, o ministro do Gabinete da Segurança Institucio­nal, Sérgio Etchegoyen, foi apresentad­o ontem como coordenado­r do plano de segurança do governo para tentar acabar com a greve dos caminhonei­ros, que chega hoje ao sexto dia.

Além de ministros, a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Agência Brasileira de Inteligênc­ia (Abin) também participam do gabinete de crise, que manterá reuniões constantes durante o final de semana.

No primeiro encontro do grupo, ontem pela manhã, foi o presidente Michel Temer quem sugeriu a ideia do uso das forças militares para resolver a paralisaçã­o. Temer chegou com a decisão tomada. Pesquisas em poder do governo indicavam que a população não apenas apoiava a greve dos caminhonei­ros como via falta de controle da situação, por parte do Planalto.

Ao saber que o acordo firmado na véspera não havia sido cumprido, o presidente resolveu endurecer o discurso. Em conversas reservadas, disse que estava havendo uso político da crise até por parte de antigos aliados, por causa da proximidad­e das eleições. Na prática, a atitude de Temer foi uma tentativa de amenizar o novo desgaste em sua imagem. Levantamen­tos que chegaram ao Planalto mostraram que as pessoas temiam a crise de abastecime­nto.

Entre as prioridade­s de atendiment­o do governo na noite de ontem estavam seis aeroportos – Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Congonhas (SP), Recife e Goiânia – e 11 pontos de distribuiç­ão, como as refinarias de Paulínia (SP), Duque de Caxias (RJ), Canoas (RS) e Manaus, portos de Suape (PE) e Santos (SP), além de hidrelétri­cas em Rondônia e Roraima.

Todo o trabalho inicialmen­te feito pelo Exército foi de escolta, para garantir que o combustíve­l que estava parado fosse transporta­do, sem risco.

A ideia de atuação das Forças Armadas para desobstruç­ão de rodovias, que inicialmen­te foi aventada, acabou relegada a segundo plano porque o governo entendeu que, ao garantir o transporte do combustíve­l a partir das refinarias e portos, com escolta, esvaziaria o movimento. Caso a normalizaç­ão dos setores críticos seja pouco a pouco garantida, a intervençã­o das tropas seria desnecessá­ria por enquanto.

O ministro da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, disse que “não imagina” a possibilid­ade de ocorrer um confronto entre as Forças Armadas e caminhonei­ros. “A ação não é contra caminhonei­ros. É para permitir o trânsito, o direito de ir e vir das pessoas e veículos e o abastecime­nto”.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu ontem decisão que permite uso da força se for “imprescind­ível” para acabar com bloqueios nas rodovias.

 ?? MARCELO THEOBALD /AGÊNCIA O GLOBO ?? Reduc. Homens da Polícia do Exército escoltam caminhões de combustíve­is na saída da refinaria da Petrobrás em Duque de Caxias, Rio d e Janeiro
MARCELO THEOBALD /AGÊNCIA O GLOBO Reduc. Homens da Polícia do Exército escoltam caminhões de combustíve­is na saída da refinaria da Petrobrás em Duque de Caxias, Rio d e Janeiro

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil