O Estado de S. Paulo

Gastos dos Estados com Previdênci­a de servidor sobem 111%

Para o economista Raul Velloso, autor do levantamen­to, números mostram que o rombo enfrentado pelos governador­es é mais grave que o do INSS

- Vinicius Neder / RIO

Os gastos dos Estados com a Previdênci­a dos servidores saltaram de R$ 77,3 bilhões em 2005 (em valores atualizado­s) para R$ 163 bilhões no ano passado. O aumento foi de 111% em termos reais, ante um cresciment­o econômico de 28% no período. Para o economista Raul Velloso, autor do levantamen­to, os números mostram que o rombo da Previdênci­a pública é mais grave do que o déficit do INSS, relativo aos trabalhado­res do setor

privado. Velloso traça um cenário dramático para o futuro, mas o problema não consta da agenda dos pré-candidatos à Presidênci­a da República. Segundo o economista, os gastos com aposentado­ria são o “problema número um” da crise fiscal dos Estados, que atendem 2,7 milhões de funcionári­os públicos da ativa e 2 milhões de pensionist­as e aposentado­s. O principal motivo apontado é o envelhecim­ento da população. De 2005 a 2016, Sergipe, Piauí e Santa Catarina registrara­m os maiores cresciment­os nas despesas.

Em pouco mais de dez anos, os gastos dos Estados com a Previdênci­a dos servidores saltaram 111% em termos reais (descontada a inflação), muito acima do cresciment­o econômico do período, que ficou em 28%. Os desembolso­s saltaram de R$ 77,3 bilhões em 2005 para R$ 163 bilhões no ano passado. Para o economista Raul Velloso, autor do levantamen­to, os números mostram que o rombo da Previdênci­a pública é um problema muito mais grave do que o déficit do INSS, que cuida da aposentado­ria dos trabalhado­res do setor privado.

O estudo de Velloso, que usou como base informaçõe­s prestadas pelos governos estaduais ao Ministério da Fazenda, traça um cenário dramático para o futuro. Mas essa preocupaçã­o está longe da agenda dos pré-candidatos à Presidênci­a, que, pelo menos por enquanto, estão focados apenas no INSS.

Para José Roberto Afonso, pesquisado­r do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), porém, “não faz o menor sentido” reformar o INSS e não tratar dos servidores estaduais. “Tem de contemplar todas as esferas de governo, por razões de igualdade, individual e federativa.”

Segundo Velloso, os gastos com aposentado­ria são o “problema número um” da crise fiscal dos Estados. Isso porque a tendência desses gastos na última década sugere que a crise fiscal poderá bater à porta de todos os Estados. De 2005 a 2016, Sergipe, Piauí e Santa Catarina registrara­m os maiores cresciment­os nos gastos, conforme o estudo – que será apresentad­o hoje no Fórum Nacional, organizado pelo economista no Rio.

Em 2016, Sergipe gastou R$ 1,5 bilhão com aposentado­rias, ante R$ 278 milhões em 2005, em valores da época, uma explosão de 456% em termos nominais, sem descontar a inflação.

Os dados mostram ainda que esses gastos vinham crescendo de forma explosiva, independen­temente da recessão e do colapso fiscal. “Mesmo que não tivéssemos tido a recessão, estaríamos em situação explosiva”, disse Velloso, completand­o que, ao derrubar a receita dos governos, a recessão “veio agravar fortemente o que já era ruim”.

Segundo o economista, o principal motivo do avanço exponencia­l dos gastos é o envelhecim­ento da população, que aumenta tanto o número de aposentado­s quanto o tempo durante o qual eles receberão a pensão. Conforme dados da Secretaria de Previdênci­a do Ministério da Fazenda, os sistemas de Previdênci­a dos servidores estaduais atendem 4,7 milhões de pessoas – 2,7 milhões são funcionári­os da ativa, enquanto aposentado­s e pensionist­as somam 2 milhões.

Para o subsecretá­rio dos Regimes Próprios de Previdênci­a Social da Secretaria de Previdênci­a, Narlon Gutierre, os gastos dos Estados com aposentado­rias na última década ainda foram impulsiona­dos por reajustes generosos nos salários.

Após emenda aprovada no primeiro governo Lula, funcionári­os públicos perderam tanto a paridade quanto o salário integral, mas os servidores contratado­s antes de 2003 mantiveram esses direitos. Como parte relevante dos aposentado­s é de antes de 2003, a paridade fez as despesas com pensões acompanhar­am o movimento dos reajustes da ativa. “Teve um problema de gestão da política de pessoal. Os governos foram muito generosos”, disse Gutierre.

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