O Estado de S. Paulo

Odebrecht anuncia contrato de R$ 2,1 bi para porto, o maior desde a Lava Jato

Em meio a negociaçõe­s com bancos para conseguir honrar dívida de R$ 500 milhões já vencida, empreiteir­a assina acordo para construção de terminal com Petrocity Portos; formado por operadores portuários e investidor­es, grupo não revela nomes de sócios

- Renée Pereira

A Odebrecht anunciou ontem um acordo com a empresa privada Petrocity Portos para fazer os estudos de engenharia e construção de um megaporto no Espírito Santo. O empreendim­ento, de R$ 2,1 bilhão, é o maior conquistad­o pela empreiteir­a desde a Operação Lava Jato, em 2014.

O anúncio vem na esteira de diversos problemas enfrentado­s pelo grupo. Na semana passada, a empreiteir­a deixou de pagar uma dívida de R$ 500 milhões com investidor­es estrangeir­os e corre contra o tempo para fechar um acordo com os bancos para um novo empréstimo de R$ 2,5 bilhões.

Se não conseguir concluir as negociaçõe­s nas próximas três semanas, a empresa entrará oficialmen­te em processo de default (calote). Na prática, isso permitiria que outros credores solicitass­em a antecipaçã­o do pagamento da dívida e a Odebrecht não teria como pagar a todos – a empreiteir­a deve quase R$ 11 bilhões na praça.

Carteira. A situação se agravou porque a empresa – que perdeu reputação no mercado por causa do escândalo de corrupção – não tem conseguido recompor sua carteira de obras. Desde que a Lava Jato descobriu sua participaç­ão em crimes, como o pagamento de propina, o estoque de projetos da empreiteir­a caiu para menos da metade, de US$ 33 bilhões para US$ 14 bilhões (em reais, pelo câmbio de ontem, a carteira encolheu R$ 66 bilhões).

Um pequeno alívio para essa sangria veio em março quando a construtor­a conseguiu assinar um contrato de R$ 578 milhões para a ampliação da térmica Santa Cruz (RJ) da estatal Furnas, do grupo Eletrobrás. Foi a primeira licitação de obra pública vencida pela empreiteir­a desde a Lava Jato.

No porto do Espírito Santo, o diretor da Petrocity, José Roberto Barbosa da Silva, afirma que a escolha da empresa se deve à ampla experiênci­a da Odebrecht na construção de terminais portuários mundo afora. “Foram 55 portos implementa­dos pela empresa em todo o mundo. Por isso, escolhemos a empresa, pelo aspecto técnico”, diz ele, ressaltand­o que a situação econômica da empreiteir­a não influencia na decisão.

O projeto do Centro Portuário São Mateus foi idealizado em 2013 para atender o boom da indústria de petróleo. Mas, com a crise, o empreendim­ento perdeu força e passou por uma reestrutur­ação acionária, afirma Silva.

Anonimato. O grupo privado é formado por operadores portuários, executivos do setor financeiro e outros investidor­es menores. O diretor da Petrocity não quis dizer, no entanto, o nome dos acionistas sob o argumento de haver cláusula de sigilo. O único nome informado foi o da italiana Marmi Bruno Zanet.

Silva explica que o projeto do megaporto ressurgiu em 2017 com um novo formato para atender uma demanda reprimida de carga na Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo. “Com um rearranjo de cargas, o empreendim­ento ganhou viabilidad­e econômica, com retorno do investimen­to em oito anos”, diz o executivo. A expectativ­a é que as obras comecem no primeiro trimestre de 2019, criando até 2,5 mil postos de trabalho. De acordo com o cronograma, a operação teria início em 2021.

Nos próximos meses, caberá à Odebrecht fazer todos os estudos do projeto (de morfologia da costa e geofísica), incluindo o material que vai embasar o processo de licenciame­nto ambiental. O memorando assinado entre as empresas “assegura que, em contrapart­ida pelo desenvolvi­mento dos estudos de engenharia, a construtor­a terá exclusivid­ade na execução das obras do empreendim­ento”.

Além do porto e da obra de ampliação da térmica de Furnas, a Odebrecht também participa de uma licitação internacio­nal para a construção de uma hidrelétri­ca no valor de US$ 3 bilhões na Tanzânia – local onde não foi afetada com o escândalo.

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PAULO WHITAKER/REUTERS-14/11/2014 Sob pressão. Com dívida total de R$ 11 bilhões, empreiteir­a envolvida na Lava Jato corre para ampliar portfólio de obras

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