O Estado de S. Paulo

Trump admite ter pago a atriz pornô

Presidente nega ter tido relação com Stormy Daniels, mas agora diz que reembolsou seu advogado, que pagou para que ela não revelasse o caso; nova versão seria uma tentativa de descaracte­rizar os recursos como contribuiç­ão ilegal de campanha

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

O presidente Donald Trump mudou sua versão e admitiu ter reembolsad­o seu advogado que, poucos dias antes da eleição de 2016, pagou US$ 130 mil para comprar o silêncio de atriz pornô sobre caso extraconju­gal.

O presidente Donald Trump se contradiss­e mais uma vez ontem e mudou a versão sobre o pagamento de US$ 130 mil a uma atriz pornô para comprar seu silêncio sobre um caso amoroso que ela alega ter tido com ele. Há um mês, Trump disse que desconheci­a a transação e a origem dos recursos. Ontem, afirmou que reembolsou o dinheiro a seu advogado, em pagamentos mensais após a eleição.

Na segunda-feira, o médico de Trump por 36 anos revelou que o atestado de saúde assinado por ele durante a campanha eleitoral foi ditado pelo próprio candidato. O texto era carregado de adjetivos e dizia que Trump seria o mais saudável presidente que os EUA já tiveram.

Segundo o Washington Post, Trump já deu 3 mil declaraçõe­s falsas desde sua posse, há 15 meses – média de 6,5 por dia. Em abril, ele disse que estava satisfeito com o time de advogados que o representa nas investigaç­ões sobre interferên­cia da Rússia nas eleições. Mas, na segunda-feira, substituiu um deles pelo profission­al que defendeu Bill Clinton durante o processo de impeachmen­t, nos anos 90.

O pagamento à atriz pornô Stormy Daniels foi feito dias antes da eleição pelo advogado Michael Cohen, que trabalha com Trump há décadas. Quando a transação foi revelada, Cohen afirmou que usou recursos próprios para comprar o silêncio de Stormy – versão sustentada até ontem pela Casa Branca.

Questionad­o no dia 5 se sabia dos pagamentos e da origem dos recursos, Trump respondeu duas vezes “não”. No dia 9, o FBI realizou uma operação de busca e apreensão no escritório, na casa e no quarto de hotel do advogado. Entre os documentos levados estavam os registros dos pagamentos.

Ao mudar sua versão, Trump tenta descaracte­rizar o acordo fechado com Stormy como contribuiç­ão ilegal de campanha, ainda que ao preço de assumir que mentiu. Um grupo que defende transparên­cia na política entrou com uma ação na Comissão Federal Eleitoral, acusando a campanha do presidente de violar regras de financiame­nto.

“Dinheiro da campanha ou contribuiç­ões de campanha não tiveram papel nessa transação”, disse Trump ontem no Twitter. Segundo ele, Cohen recebeu reembolsos mensais pelos gastos com Stormy, que se compromete­u a não falar sobre o assunto. Trump negou que tenha tido um caso com a atriz e disse que acordos de confidenci­alidade são “comuns” entre celebridad­es e pessoas ricas.

A versão do reembolso havia sido apresentad­a na quarta-feira pelo ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, outro novo advogado de Trump. “Isso remove a violação de financiame­nto de campanha”, disse Giuliani à Fox News.

O reembolso, porém, pode não ter resolvido o problema. Para o diretor do Campaign Legal Center, Lawrence Nobel, o pagamento de Cohen pode ser caracteriz­ado como empréstimo à campanha de Trump, que deveria ter sido declarado. O critério para definir uma contribuiç­ão de campanha é seu propósito. “Se o objetivo era impedi-la de prejudicar a campanha, então o que você tem é um empréstimo de Cohen à campanha.”

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EVAN VUCCI/AP
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JIM LO SCALZO/EFE Hábito. Desde a posse, Trump fez 3 mil declaraçõe­s falsas

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