Capital tem corrupção estruturada, diz ex-gestor
Controlador deixa cargo e fala em suspeita de desvios; Prefeitura nega irregularidades
Demitido pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), o agora ex-controlador-geral do Município Guilherme Mendes apontou irregularidades na Prefeitura, afirmou que sua saída foi uma “decisão política” e apontou esquemas de corrupção que atravessariam gestões e problemas em programas sociais. A Prefeitura nega.
Em entrevista à Rádio CBN, Mendes falou em um “esquema estruturado” de corrupção na administração municipal, citou suspeitas de desvio de R$ 50 milhões no Fundo Municipal da Criança e do Adolescente (Fumcad) e disse ainda que sua saída estava relacionada à defesa da suspensão dos contratos da parceria público-privada (PPP) da Iluminação pública, alvo de denúncias gravadas sobre pagamento de propina. O caso envolve a ex-diretora do departamento de iluminação pública (Ilume) Denise Abreu.
Procurado pelo Estado, entretanto, Mendes baixou o tom e afirmou que não disse nada que não fosse de conhecimento público, ao se referir ao “esquema estruturado”. “São esquemas envolvendo fiscais que passam por diversas administrações”, disse. Sobre o Fumcad, destacou que o trabalho de investigação dos supostos desvios “ainda está em andamento” e afirmou que “o pedido (de investigação) partiu da própria secretária de Direitos Humanos, Heloísa Arruda, que não estava segura em fazer os pagamentos porque havia muita desorganização”.
O fundo é alvo de uma auditoria, aberta em julho no Tribunal de Contas do Município (TCM). “Digo que minha saída é política porque não houve nenhum apontamento técnico sobre meu trabalho”, afirmou ele.
Mendes havia sido indicado pelo advogado Anderson Pomini, secretário de Justiça de João Doria (PSDB), que deixou o cargo com a saída do ex-prefeito para a disputa do governo do Estado. Pomini havia sido advogado eleitoral do prefeito. O excontrolador-geral é servidor de carreira da Justiça Eleitoral.
Na segunda-feira, teria sido oferecida a ele a possibilidade de permanecer na gestão Covas, ocupando cargo na Fundação Paulistana de Educação, Tecnologia e Cultura. Anteontem, entretanto, foi informado pela chefia de gabinete do novo secretário de Justiça, Rubens Rizek Júnior, de que sua demissão seria oficializada no Diário Oficial de ontem. Foi quando ele deu entrevista à rádio.
Sem irregularidades. Por meio de nota, a gestão Covas comentou as afirmações dizendo que “todas as denúncias de corrupção ou irregularidades são investigadas com máximo rigor, como bem sabe o ex-controlador, pois esta foi a orientação recebida por ele”.
Sobre o Fumcad, a Prefeitura disse que “a investigação continua em andamento”. A gestão Covas destacou ainda que o novo controlador-geral, Gustavo Ungaro (veja entrevista ao lado), é um dos especialistas mais conceituados em controle interno do País”. Ungaro ocupava a chefia da Ouvidoria-Geral do Estado, que tem atribuições parecidas, como zelar pela transparência da gestão pública.
Decisão política
“Digo que minha saída é política porque não houve nenhum apontamento técnico sobre meu trabalho.” Guilherme Mendes
EX-CONTROLADOR-GERAL