O Estado de S. Paulo

Cargos em estatais dão poder político, status e voto

Para especialis­tas, parlamenta­res são contrários à privatizaç­ão da Eletrobrás porque querem manter influência em subsidiári­as locais

- Anne Warth Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Os mesmos parlamenta­res que terão de aprovar no Congresso o projeto de privatizaç­ão da Eletrobrás têm motivos para serem contrários à venda da estatal, já que exercem influência nas subsidiári­as locais da companhia, diz o diretor do Centro Brasileiro de Infraestru­tura (CBIE), Adriano Pires. “No fundo, essas empresas já estão privatizad­as há muito tempo pelos políticos e sindicatos. Eles têm usado e abusado dessas companhias ao longo de anos.”

Para Pires, os parlamenta­res que questionam o modelo de venda da Eletrobrás, na verdade, buscam justificat­ivas para adiar o processo. “É algo mais sutil, mas, no fundo, são argumentos sofisticad­os usados por quem é contrário.” Cargos em estatais, diz ele, dão poder político, econômico, status e voto.

A influência política em estatais cria situações anacrônica­s. De acordo com o ex-diretor da Aneel Edvaldo Alves de Santana, houve momentos em que a Celg-D deixou de pagar encargos setoriais e fornecedor­es, mas mantinha patrocínio­s esportivos e culturais. Nessa época, a distribuid­ora pertencia à Eletrobrás e ao governo goiano. No fim de 2016, a empresa foi vendida para a italiana Enel. “A influência política é uma das principais fontes de ineficiênc­ia do setor elétrico brasileiro”, diz Santana, hoje presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidor­es de Energia (Abrace).

O presidente da consultori­a Thymos Energia, João Carlos Mello, atuou por 18 anos no Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), vinculado à Eletrobrás. Segundo ele, os apadrinhad­os não necessaria­mente favorecem desvios, mas priorizam ações que valorizem o político. Um dos exemplos é a antecipaçã­o de obras sem urgência e que rendam votos. “São coisas pequenas, mas o somatório é ruim.”

Outro lado. Em nota, a Eletrobrás informou que os presidente­s de todas as subsidiári­as da companhia foram substituíd­os desde que Wilson Ferreira Jr. assumiu a presidênci­a da empresa, em julho de 2016, além de boa parte dos diretores e conselheir­os. Segundo a empresa, todas as nomeações seguiram as normas da Lei das Estatais.

“Quanto aos atuais presidente­s, todos têm origem no setor elétrico e muitos são empregados de carreira das empresas Eletrobrás”, informou a empresa. “No que diz respeito às indicações políticas, há que se considerar que o acionista majoritári­o da Eletrobrás é a União. Em última instância, é ela, portanto, quem indica os dirigentes.”

A reportagem consultou todos os deputados e senadores citados como padrinhos políticos. O deputado Sérgio Souza (MDB-PR) disse que a indicação do diretor de Itaipu foi de toda a bancada do partido no Paraná. O deputado Átila Lira (PSB-PI) disse que a indicação do executivo da Eletrobrás Distribuiç­ão Piauí foi da bancada estadual. Rodrigo Martins (PSB-PI) negou a indicação.

A Marinha, o senador Valdir Raupp (MDB-RO) e o deputado Marx Beltrão (PSD-AL) negaram ter indicado executivos para a Eletrobrás. Os senadores Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Gladson Cameli (PP-AC), Omar Aziz (PSD-AM), Romero Jucá (MDBRR), Dario Berger (MDB-SC) e o ex-senador José Sarney (MDBAP) não respondera­m.

“A influência política é uma das principais fontes de ineficiênc­ia do setor elétrico brasileiro.” Edvaldo Alves de Santana

PRESIDENTE DA ABRACE

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