O Estado de S. Paulo

Empresário recorre contra pedido do MP brasileiro na Suíça

José Amaro Ramos é acusado de usar conta no exterior para fazer repasses para campanha do tucano José Serra

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA Fabio Serapião / BRASÍLIA

A defesa do empresário José Amaro Pinto Ramos tenta impedir nas cortes suíças que extratos e documentos de contas suas no país sejam repassados ao Brasil para uso do Ministério Público em investigaç­ões.

O escritório do procurador­geral da Suíça confirmou ao Estado que deu sinal verde para que a documentaç­ão fosse transferid­a ao Brasil. Mas a defesa de Ramos entrou com um recurso. Ele é apontado em delação premiada do ex-presidente da Odebrecht Pedro Novis como intermediá­rio de repasses no exterior que teriam como beneficiár­io o senador José Serra (PSDB-SP).

No segundo semestre de 2017, a pedido do Brasil, o Ministério Público da Suíça coletou informaçõe­s sobre o empresário e as contas da offshore Circle Technical Company em bancos do país. Mas uma batalha jurídica foi iniciada diante da tentativa da defesa de evitar que essas informaçõe­s chegassem ao Brasil.

“O escritório do procurador­geral publicou uma decisão final sobre a execução da cooperação mútua (com o Brasil)”, afirmou o Ministério Público suíço. “Como as partes envolvidas submeteram um recurso diante da Corte de Apelo do Tribunal Criminal Federal contra essa decisão, esse processo ainda está em andamento.”

Tanto Serra como o empresário são investigad­os em um inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal. Os investigad­ores tentam mapear a relação entre os dois relatada por Novis em seu acordo de colaboraçã­o. Embora a cooperação esteja em andamento, não há informaçõe­s sobre ela no inquérito em curso no STF.

O executivo disse ter repassado R$ 4,5 milhões ao senador, entre 2006 e 2007, por meio de “uma conta bancária no exterior fornecida por José Amaro”. “Que pode afirmar que as transferên­cias realizadas para a Circle Technical Company, conforme indicado por José Serra, não possuem qualquer relação com serviços prestados por José Amaro Pinto Ramos”, disse Novis à PF.

Os valores teriam como destino a campanha do tucano ao governo de São Paulo, em 2006. Em depoimento à PF, Ramos confirmou ser o proprietár­io da offshore Circle Technical e disse que a empresa nunca foi declarada à Receita Federal do Brasil.

Por meio de sua assessoria, Serra informou que Ramos jamais trabalhou em suas campanhas eleitorais e que contas das campanhas “sempre cumpriram as determinaç­ões da legislação, nunca tendo recebido dinheiro no exterior”.

O advogado Eduardo Carnelós, defensor de Ramos, disse que o representa­nte do empresário na Suíça “vislumbrou várias irregulari­dades jurídicas no pedido, por isso recorreu ao Poder Judiciário daquele país”.

“Como as partes envolvidas submeteram um recurso diante da Corte de Apelo do Tribunal Criminal Federal, esse processo ainda está em andamento.”

MENSAGEM DA PROCURADOR­IA-GERAL DA SUÍÇA

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BETO BARATA/PR-31/1/2018 Investigaç­ão. O senador José Serra nega as acusações

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