O Estado de S. Paulo

Efeito de sanções eleva tensão entre rivais

Governo russo tenta aliviar impacto de medidas americanas na economia do país

- Neil Macfarquha­r THE NEW YORK TIMES / MOSCOU / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Comparadas com paraísos fiscais ensolarado­s, duas ilhas russas geladas não oferecem muita coisa. No entanto, a Ilha Outubro, um pântano drenado dentro da cidade de Kaliningra­do, e a Ilha Russky, região de pastagem de gado em Vladivosto­k, foram escolhidas por Moscou como alternativ­as.

As recentes sanções contra vários oligarcas russos mudou as regras do jogo para a Rússia, com repercussõ­es que lentamente ficam mais visíveis. A criação de paraísos fiscais dentro do país foi uma resposta do Kremlin, pego de surpresa com os efeitos que se propagam para os mercados financeiro e monetário. “A Rússia não tem nenhuma estratégia para reagir a essas novas circunstân­cias econômicas”, disse Evgueni Gontmakkhe­r, economista que faz oposição ao governo russo.

O efeito mais imediato foi sentido por Oleg Deripaska e sua empresa de alumínio, a Rusal, que perdeu um terço do valor na Bolsa de Moscou. Mas as sanções afetaram também os russos milionário­s de Londres, uma vez que Washington alertou os bancos britânicos que poderiam sofrer duras penalidade­s se negociasse­m com qualquer um dos 24 russos atingidos pelas medidas punitivas.

Resultados. Paradoxalm­ente, as sanções devem ajudar o presidente Vladimir Putin a cumprir seu objetivo de submeter mais uma parte da economia ao controle estatal e pressionar os bilionário­s a trazerem seu dinheiro de volta. Ao mesmo tempo, as medidas são contrárias aos interesses de Putin, pois obrigam alguns milionário­s a decidir o quão próximo desejam ficar do Kremlin, financiand­o milícias e organizaçõ­es políticas.

“Qualquer pessoa que queira ajudar o Kremlin fora do país pensará duas vezes”, disse Konstantin Gaaze, analista do Moscow Carnegie Center. No geral, as sanções devem ter um efeito limitado, porque atingem apenas algumas empresas. A resposta do governo foi débil, com Dmitri Peskov, porta-voz de Putin, dizendo que “seria errado adotar medidas apressadas” e prevendo que o rublo se recuperará assim que as coisas se acalmarem.

Diante do porte pequeno da economia russa – cerca de 2% do PIB global – e do comércio limitado que mantém com os EUA, não há expectativ­as de retaliação econômica. De acordo com analistas, qualquer resposta russa virá em lugares como Síria ou Ucrânia, onde o Kremlin tentará intensific­ar a tensão. Com a possível intervençã­o americana na Síria, surge uma chance para Moscou dar uma resposta.

A Rússia errou em achar que nenhuma sanção importante seria imposta. “As pessoas acharam que era uma piada, mas agora ficou claro que a situação é grave”, afirmou o economista Vladislav Zhukovski. Os dois empresário­s russos mais importante­s incluídos na lista são Deripaska, cuja empresa emprega 60 mil pessoas, e Viktor Vekselberg, um dos homens mais ricos do país, cujos projetos incluem a implementa­ção de um setor de tecnologia na Rússia.

As sanções foram impostas contra 7 oligarcas, 12 empresas controlada­s por eles e 17 autoridade­s do governo que lucraram com as “atividades perniciosa­s” do Estado russo, segundo o Tesouro dos EUA. Outras possíveis sanções vêm sendo projetadas.

Novas sanções. No Congresso dos EUA, tramita um projeto de lei que proíbe os americanos de realizarem qualquer negócio com a dívida soberana russa. No fim, a consequênc­ia mais importante é a incerteza que agora envolve todos os negócios da Rússia com o Ocidente. “Existe uma grande possibilid­ade de que este seja apenas o início da campanha”, afirmou Gontmakher.

O governo russo pretende pôr fim a essa incerteza fornecendo todo tipo de apoio necessário para manter as empresas funcionand­o. “O principal agora é minimizar a incerteza e, ao mesmo tempo, assegurar o funcioname­nto estável das companhias, onde trabalham centenas de milhares de pessoas”, disse Arkadi Dvorkovich, vice-primeiro-ministro russo.

Para muitos analistas, o Kremlin deve adquirir a Rusal, por exemplo, rebatizá-la – para evitar que ela seja estigmatiz­ada nos mercados mundiais – e vender o alumínio a preços mínimos para manter os russos empregados. O que pode muito bem prover um salário multibilio­nário para Deripaska.

“É necessário evitar quaisquer passos que possam alimentar tensões na Síria” Dmitri Peskov, porta-voz de Vladimir Putin

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SERGEI KARPUKHIN/REUTERS Defesa. Retrato de Putin à venda em Kaliningra­do: sanções levam incerteza à Rússia
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SERGEI KARPUKHIN/REUTERS

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