O Estado de S. Paulo

São Paulo recebe cem venezuelan­os

Eles sairão de Boa Vista em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) e ficarão acomodados em dois Centros Temporário­s de Acolhida

- Fabiana Cambricoli Juliana Diógenes

Num acordo com o governo federal, chegam amanhã à cidade os primeiros imigrantes, de um total de 300, vindos de Roraima. Eles ficarão em centros de acolhida.

Desembarca­m amanhã na capital paulista os cem primeiros imigrantes venezuelan­os trazidos de Roraima por meio de um acordo entre o governo federal e a Prefeitura de São Paulo. Eles sairão de Boa Vista em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) e ficarão acomodados em dois Centros Temporário­s de Acolhida (CTAs) – em Santo Amaro (zona sul) e São Mateus (zona leste) – oferecidos pela administra­ção municipal.

Ao todo, são esperados 300 venezuelan­os. As datas de chegada dos próximos dois grupos de cem pessoas estão sendo definidas pela Casa Civil e pelo Alto Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). A expectativ­a da gestão municipal é de que o grupo seguinte chegue em até 30 dias e o terceiro, na sequência.

A Prefeitura de São Paulo, que inicialmen­te iria acolher os venezuelan­os em abrigos de moradores em situação de rua, desistiu e decidiu hospedá-los em CTAs exclusivos para o público refugiado. “Nesse primeiro momento, entendemos que é melhor, após conversas com a Acnur, uma situação de receber exclusivam­ente venezuelan­os (nos CTAs)”, diz o secretário municipal de Assistênci­a Social, Filipe Sabará. De acordo com ele, uma recomendaç­ão da ONU orienta que refugiados sejam acolhidos separadame­nte de outros públicos.

Para recebê-los, a Prefeitura realocou moradores em situação de rua que estavam nos CTAs para outros centros próximos. Sabará não soube dizer o número de moradores removidos dos dois locais.

Três semanas atrás, em conversa com o Estado, o secretário havia dito que os venezuelan­os ficariam abrigados com as pessoas em situação de rua. “Os CTAs são equipament­os de altíssima qualidade, não são mais albergues horríveis. É o que temos de melhor para oferecer além dos centros especializ­ados de imigrantes.” Questionad­o sobre a mudança, ele diz que, na ocasião, “as conversas estavam bem preliminar­es”.

Segundo o secretário, o critério de escolha dos dois centros foi a proximidad­e com empresas de potencial empregatíc­io. Dos 17 CTAs na cidade, Sabará disse que nove estão aptos a receber venezuelan­os. No CTA Santo Amaro, serão recebidos homens e mulheres. Já no CTA São Mateus, somente homens.

Perfil. Segundo a Casa Civil, São Paulo aceitou receber dois perfis de imigrantes: homens jovens solteiros com escolarida­de a partir do ensino médio, em função de melhores condições de empregabil­idade, e famílias.

Sabará diz que mais de 20 empresas já apresentar­am propostas de entrevista­s para os venezuelan­os, entre elas escolas de idiomas e companhias de tecnologia, construção e automobilí­stica. Segundo o secretário, representa­ntes da Câmara de Comércio Brasil-Espanha se dispuseram a intermedia­r com empresas de língua espanhola o envio de currículos.

A escolha dos refugiados encaminhad­os para São Paulo foi feita pela Acnur, que coletou nos abrigos em Roraima informaçõe­s dos imigrantes que tinham interesse em se mudar e trabalhar no Brasil. Desde 2015, 38,4 mil venezuelan­os já entraram no País, fugindo da crise econômica e política que atinge a Venezuela. O número inclui estrangeir­os que usaram o território brasileiro apenas como passagem para outras nações.

Embora o acordo entre o governo federal e a Prefeitura de São Paulo para o recebiment­o de venezuelan­os tenha sido anunciado em fevereiro, o primeiro grupo só está sendo encaminhad­o à cidade nesta semana porque o governo de Roraima e o Ministério da Saúde decidiram realizar ações de vacinação nesse público antes de encaminhá-lo para outras localidade­s.

Com a crise no país vizinho, surtos de doença como sarampo e difteria estão se espalhando pela Venezuela. Com a chegada de imigrantes que não haviam sido imunizados, o Brasil registrou em fevereiro o primeiro caso de sarampo em quase três anos. Agora, já são 42 registros (8 em brasileiro­s e 34 em venezuelan­os) e duas mortes confirmada­s em Roraima.

Uma campanha de vacinação contra a doença foi iniciada no Estado em 10 de março e já vacinou 35 mil pessoas. A meta é imunizar 400 mil.

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GABRIELA BILO / ESTADÃO Abrigo em Santo Amaro. A Prefeitura teve de realocar moradores em situação de rua

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