O Estado de S. Paulo

Acima de qualquer dúvida

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Oplacar de 3 a 0 no julgamento no TRF-4 deveria ser suficiente para convencer os petistas a finalmente deixar de tratar o corrupto Lula da Silva como um mártir da democracia brasileira. Em sua passagem pela Presidênci­a, Lula conspurcou o mais elevado cargo político da República, a ele conferido pelo eleitor. Pagará por isso.

A 8.ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, confirmou, por unanimidad­e, a sentença do juiz federal Sérgio Moro que condenou o ex-presidente Lula da Silva à prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. E aumentou a sentença aplicada em primeira instância de 9 anos e 6 meses para 12 anos e 1 mês. Nas palavras do relator do processo de apelação, desembarga­dor João Pedro Gebran Neto, “há provas acima de dúvida razoável” de que o chefão petista obteve benefícios pessoais da empreiteir­a OAS em razão do esquema de corrupção na Petrobrás.

A corte recursal rejeitou, assim, o principal argumento da defesa de Lula e dos petistas que viam e ainda veem no processo uma ameaça ao Estado Democrátic­o de Direito por, segundo eles, condenar o ex-presidente “sem provas” – o que caracteriz­aria o julgamento como político.

O placar de 3 a 0 no TRF-4 deveria ser suficiente para convencer os petistas a finalmente deixar de tratar o corrupto Lula como um mártir da democracia brasileira. Fosse seguido à risca o estatuto do PT, Lula teria de ser expulso, pois lá está claro que o partido não aceitará em seus quadros qualquer condenado “por crime infamante ou por práticas ilícitas”. Mas é evidente que isso não vai acontecer, assim como não aconteceu com outros capas pretas do PT igualmente condenados nos diversos escândalos em que o partido se meteu desde o instante em que chegou ao poder. Vejam-se os casos de Celso Daniel e Toninho do PT. A razão disso é simples: o discurso ético do PT, a exemplo de suas juras de amor à democracia, nunca foi um compromiss­o real – nem poderia ser, pois, afinal, lulopetism­o e respeito aos pilares democrátic­os provaram-se desde sempre incompatív­eis.

Assim, o PT se vê na contingênc­ia de, ao menos por algum tempo ainda, continuar a denunciar uma conspiraçã­o que jamais existiu. Contudo, se tiverem um mínimo de juízo e estiverem interessad­os em sua sobrevivên­cia política, os petistas, passado o calor do momento, farão a necessária autocrític­a – e, nesse caso, Lula deixará de ter qualquer influência no PT.

A esta altura, apenas os petistas mais fanáticos não estão constrangi­dos com o fato de que Lula, mesmo tendo exercido plenamente seu direito de defesa, agora é um corrupto condenado em duas instâncias. Já são quatro os juízes que consideram o ex-presidente um criminoso, e seria preciso grande esforço para acreditar que todos estejam mancomunad­os para condenar Lula e, assim, impedi-lo de disputar novamente a Presidênci­a. Julgados eventuais embargos de declaração, Lula poderá conhecer de perto as agruras da cadeia comum, aquela para onde vão os criminosos.

À campanha sistemátic­a de descrédito do Judiciário que os petistas deflagrara­m nos últimos tempos para defender seu chefão, os desembarga­dores respondera­m com cristalina objetivida­de em relação às provas. O relator do processo, João Pedro Gebran Neto, detalhou todas as evidências arroladas na sentença do juiz Sérgio Moro – aquela que os petistas diziam carecer de provas. Gebran Neto concluiu que há “culpabilid­ade extremamen­te elevada” de Lula. Para o revisor do processo, desembarga­dor Leandro Paulsen, a responsabi­lidade de Lula é “inequívoca”, pois há “farta prova documental”. Para o desembarga­dor Victor Luiz dos Santos Laus, há provas documentai­s “para quem quiser ver”.

O aspecto mais importante do julgamento de ontem, contudo, foi a clareza dos desembarga­dores ao vincular os crimes de Lula ao esquema de corrupção na Petrobrás. Embora tenham enfatizado que o julgamento ali dizia respeito apenas ao pagamento de propinas para o ex-presidente, como um apartament­o no Guarujá, os magistrado­s deixaram registrado que isso aconteceu em conexão com o petrolão. Mais do que isso: os desembarga­dores considerar­am que, sem Lula, não haveria petrolão. Foi ele quem garantiu o funcioname­nto da organizaçã­o criminosa, segundo os magistrado­s. É isso o que importa nesse processo, e em razão disso a Turma decidiu aumentar a pena imposta a Lula, de 9 anos e 6 meses para 12 anos e 1 mês de cadeia.

“A corrupção cometida por um presidente torna vil o exercício da autoridade”, disse o desembarga­dor Leandro Paulsen, com clareza meridiana. Lula, em sua passagem pela Presidênci­a, conspurcou o mais elevado cargo político da República, a ele conferido pelo eleitor. Pagará por isso.

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