Ex-presidente diz que é vítima de ‘pacto’
A uma plateia formada por militantes e sindicalistas, Lula diz que decisão lhe deu uma ‘coceirinha’ para continuar pré-candidato ao Planalto
Em discurso, Lula disse que é vítima de “pacto” entre Judiciário e imprensa e que não vai desistir da disputa. “Quero avisar a elite: esperem, vamos voltar.”
Três horas depois de ser condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) a 12 anos e um mês de prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em palanque montado na Praça da República, que não vai desistir da disputa ao Palácio do Planalto porque uma “coceirinha” o faz seguir adiante. “Pobre daqueles que acham que, prendendo o Lula, acaba a luta. Quero avisar a elite: esperem que vamos voltar”, gritou ele.
Diante de uma plateia formada por militantes do PT, parlamentares, sindicalistas e integrantes de movimentos sociais, o ex-presidente afirmou ser vítima de um “pacto” entre o Judiciário e a imprensa para acabar com seu partido e tirá-lo do jogo eleitoral. “Se me condenaram, me deem pelo menos o apartamento”, ironizou Lula, em referência ao triplex no Guarujá, alvo da Lava Jato. “Quero que eles digam qual foi o crime que cometi. Estou condenado outra vez por um apartamento que eu não tenho. Já pedi para o Guilherme Boulos (líder do MTST) mandar o pessoal dele ocupar. Já que é meu, que ocupem.”
A estratégia de Lula consiste em adotar o discurso da perseguição política. Hoje, ele participará da reunião da Executiva Nacional do PT, que vai lançá-lo candidato ao Planalto e baterá nessa mesma tecla. “Eu nem precisava voltar, já estava aprovado, mas agora percebo que eles estão fazendo isso para evitar que eu seja candidato. Essa provocação é de tal envergadura que me deu uma coceirinha e, agora, quero ser candidato a presidente da República”, insistiu. Na Praça da República, muitos petistas não continham as lágrimas.
Chamado pelo público de “guerreiro do povo brasileiro”, Lula citou Tiradentes e se comparou ao ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, que era tido como terrorista e passou quase três décadas na cadeia. “Mandela ficou preso 27 anos. Nem por isso a luta dele diminuiu. Voltou e foi presidente.”
O ex-presidente acompanhou parte do julgamento na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo – berço político do PT –, ao lado de aliados. Lula presidiu a entidade de 1975 a 1981 e dali comandou várias greves, desafiando o regime militar. Antes do veredicto, disse aos militantes que esperava ser absolvido por 3 a 0. A portas fechadas, porém, não escondeu o abatimento.
A decisão do TRF-4 fez o PT convocar ainda ontem uma reunião de emergência com alguns dirigentes e parlamentares, na
sede do partido, em São Paulo. Todos saíram de São Bernardo e foram para lá.
O PT pretende registrar a candidatura de Lula à Presidência em 15 de agosto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e tentar reverter a decisão que deve torná-lo inelegível pela Lei da Ficha Limpa, mas, nos bastidores, considera remota a possibilidade de mudar o quadro. Pior: o
partido foi alertado que ele pode ser preso antes disso.
Guerra. “A partir deste momento, é radicalização da luta”, afirmou a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), em Porto Alegre (RS). Em nota, ela disse que o julgamento configura “farsa judicial”. “Se pensam que a história termina com a decisão de hoje, estão muito
enganados, porque não nos rendemos diante da injustiça”.
Assim que o voto do desembargador João Pedro Gebran Neto, relator do processo, foi lido, alguns petistas que estavam com Lula no sindicato caíram no choro. “Muita gente se emocionou”, disse o senador Humberto Costa (PE). “Mas vamos até as últimas consequências com Lula. Se houver impugnação, isso deve acontecer por volta de setembro.”
O ex-ministro da Casa Civil e ex-governador da Bahia Jaques Wagner, um dos cotados para ser o plano B do PT na eleição, foi dar um abraço em Lula e almoçou com ele. No cardápio, carne com cogumelo, arroz, feijão e macarrão japonês, servidos em quentinhas. A televisão, segundo ele, estava desligada. “Para quê acompanhar o julgamento ?”, perguntou .“Ele ficou naquela sala reservada do segundo andar conversando com amigos.”
Um telão foi instalado no auditório do sindicato para que os militantes assistissem à sessão. “Comecei aqui e aqui vou recomeçar”, afirmou o ex-presidente a amigos, ao chegar ao sindicato, pouco depois das 10 horas. “Você vota em mim, Devanir?”, perguntou ele ao ex-deputado Devanir Ribeiro, que foi diretor do sindicato.
O bom humor foi terminando à medida que o julgamento prosseguia. Apesar de esperarem a condenação, os petistas tinham esperanças no revisor, Leandro Paulsen. Acreditavam que Lula poderia ter um voto favorável, abrindo divergência na Corte, o que lhe daria direito amais um recursona Justiça. “Recebemos com muita perplexidade esse resultado”, afirmou o senador petista Jorge Viana (AC). “Fico chocado de ver essa caçada contra Lula. Não é possível que um tribunal tenha se partidarizado dessa forma.”
‘Provocação’
“Eu nem precisava voltar, já estava aprovado, mas agora percebo que eles estão fazendo isso para evitar que eu seja candidato. Esta provocação é de tal envergadura que me deu uma coceirinha. Agora, eu quero ser candidato.”
“Quero que peçam desculpas pela quantidade de mentiras sobre mim. Fui condenado por um apartamento que não é meu.” Lula
EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA