O Estado de S. Paulo

‘Descontent­amento no partido acirra cisão entre filhos de ex-líder’

- Francisco Belaunde, analista político peruano / L.R.

O partido Fuerza Popular conseguiu um de seus principais objetivos políticos, a libertação de Alberto Fujimori, às custas de uma crescente divisão interna entre os dois herdeiros do ex-presidente: a filha mais velha, Keiko, candidata derrotada duas vezes à presidênci­a, e o mais novo, Kenji, o deputado que, segundo fontes do partido, articulou junto ao presidente Pedro Pablo Kuczynski a libertação de seu pai.

Nos primeiros 17 meses do mandato de Kuczynski, o Fuerza Popular, sob liderança de Keiko, lançou uma ofensiva contra o presidente, destituind­o ministros e ameaçando tirá-lo do cargo graças à folgada maioria de 71 deputados que possui no Congresso.

Para o analista político peruano Francisco Belaunde, no entanto, essa hegemonia está agora sob ameaça. Com a libertação de Fujimori, Kenji, com a bênção do pai, deve cada vez mais desafiar Keiko, impedindo o fujimorism­o de consolidar-se diante de um rival mais fraco. A seguir, trechos da entrevista.

Até que ponto uma aproximaçã­o entre Kuczynski e o fujimorism­o é possível?

É preciso analisar qual é a relação de forças dentro do fujimorism­o, qual será o papel de Alberto Fujimori fora da prisão e até que ponto seus problemas de saúde serão um limitador para sua ação política. Não se sabe se ele conseguirá impor uma moderação a Keiko.

Com Fujimori solto e Kenji ‘rebelde’, Keiko conseguirá manter a liderança do partido?

Keiko perdeu liderança nesta crise. Muitos deputados decidiram ir contra ela na votação da destituiçã­o. Além disso, há um descontent­amento na bancada que não envolve apenas os deputados que seguiram Kenji e se abstiveram na semana passada. Essa é a grande incógnita: quantos desses deputados estão suficiente­mente descontent­es com ela. Mas o fato é que, sim, ela perdeu capital político.

Kenji agora se torna um protagonis­ta forte?

Há um confronto entre Kenji e a irmã, que tem um pouco a ver com o pai, porque Kenji tem agido muito em função do que seu pai quer e quais são os objetivos de Alberto. Ele (Kenji) tem um papel mais importante no fujimorism­o justamente pelo respaldo do pai. Ele ganha com isso, evidenteme­nte.

Como fica a esquerda, que no Peru sempre foi um aglutinado­r das forças antifujimo­ristas, mas na votação da destituiçã­o se dividiu?

A esquerda se dividiu entre a Frente Ampla, que se uniu ao fujimorism­o pela destituiçã­o do presidente, e o Novo Peru, que apoiou Kuczynski. Muitos dizem que se a esquerda tivesse votado unida na semana passada, Kuczynski não teria de ter negociado o indulto a Fujimori para escapar da destituiçã­o. Agora, os blocos de esquerda vão se posicionar por meio das manifestaç­ões de rua contra Kuczynski.

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MARTIN MEJIA/AP-24/12/2017 Keiko. Filha de Fujimori perdeu capital político

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