O Estado de S. Paulo

Entidades do MP estudam Adin contra indulto natalino concedido por Temer.

- Vera Magalhães

Entidades de classe do Ministério Público estudam ingressar com uma ação direta de inconstitu­cionalidad­e para questionar o decreto de indulto natalino assinado pelo presidente Michel Temer. Há ainda pressão para que a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, impetre a Adin, como forma de marcar institucio­nalmente o repúdio ao decreto de Temer, mas ela não está convencida de protagoniz­ar esse embate.

A tese que embasaria a Adin é a de que indultar 80% da pena, como faz o decreto, fere o princípio da proibição da proteção deficiente – uma das facetas do princípio geral da proporcion­alidade, segundo o qual a ação do Estado não pode ser nem excessiva nem deficiente na hora de fixar uma punição.

Além disso, sustentam procurador­es que discutem a Adin, haveria desvio de finalidade no decreto, uma vez que seus termos podem beneficiar no futuro o próprio Temer e, mais imediatame­nte, aliados seus envolvidos em investigaç­ões.

O presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procurador­es da República), José Robalinho Cavalcanti, diz que a entidade está analisando o decreto, mas afirma que Temer “extrapolou em muito os limites do que a Constituiç­ão lhe permite”. Para ele, o indulto fere, ainda, os princípios da proporcion­alidade e da razoabilid­ade, avançando inclusive sobre prerrogati­va do Congresso de fixar a pena.

Os próprios procurador­es, no entanto, admitem que o sucesso da empreitada no Supremo Tribunal Federal é incerto.

Avaliam que seria mais fácil questionar o decreto, com chance de êxito, se houvesse um beneficiár­io claro e inequívoco da benevolênc­ia do chefe do Executivo, como foi o caso do indulto concedido pelo presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, ao seu adversário Alberto Fujimori para escapar do impeachmen­t. Ali o desvio de finalidade seria expresso.

A associação política entre o ato de Temer e o de PPK, no entanto, é considerad­a inevitável por aliados e assessores do peemedebis­ta, que acham que o decreto na undécima hora de 2017 deve prejudicar a ainda incipiente recuperaçã­o da imagem do presidente e o discurso dos feitos positivos do governo na economia.

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BETO BARATA/PR-20/9/2016 ‘Tamo junto’. Temer e PPK, do Peru, concederam indultos benevolent­es
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