O Estado de S. Paulo

‘Só vou dar um tiro na cabeça do seu marido’

- / M.G.

Era 6 de setembro quando o major Flávio César Fabri e uma dúzia de seus homens se preparavam logo cedo para capturar um matador de policial no limite entre Santo André e Mauá, na Grande São Paulo. Foram em três carros disfarçado­s. Cada veículo ficaria em um ponto, vigiando uma boca de fumo.

Escondido atrás de vidros com uma película preta, Fabri levava uma escopeta com balas de borracha, caso houvesse confusão na ação. Colocou o colete à prova de balas, arrumou o estojo de primeiros socorros e ajeitou a pistola na cintura. Sobre o painel do carro, um binóculo e luvas. “Sob a proteção de Deus iremos e retornarem­os”, disseram os policiais em voz alta ao saírem do quartel.

Sem ar-condiciona­do, teriam de ficar parados debaixo do sol e fechados nos carros, vigiando durante horas. Os primeiros 15 minutos foram fáceis. Depois, o ar começou a pesar, o suor a escorrer pelo rosto e a camisa a colar no corpo, debaixo do colete à prova de balas. Tudo ficou abafado. Para não despertar a suspeita de quem passava ao lado, o silêncio tinha de ser absoluto. A 50 metros dali, homens do tráfico de drogas vigiavam.

Investigar, localizar o suspeito e prender é uma rotina para o capitão Ricardo Salvi, que estava com o major. Ele se lembra de um desses casos: “O policial estava com a mulher e a filha na cadeirinha, no banco traseiro, quando foi abordado na zona sul. Ele não reagiu porque estava com a família.” Apenas um dos bandidos estava armado, mas sua pistola desmunicia­da, sem carregador.

O assaltante revistou as vítimas e achou a arma do policial. “A mulher disse ao ladrão: ‘Pelo amor de Deus, não mata meu marido’. E o bandido respondeu: ‘Fique tranquila. A gente não vai matar seu marido. A gente só vai dar um tiro na cabeça dele’. Ele matou o policial com a arma do PM.” Poucas horas depois, Salvi capturou os ladrões em um apartament­o na zona sul. Estavam com o celular, a arma e os documentos do policial assassinad­o.

No dia 6 de setembro, a vigilância acabou às 17 horas. Salvi chamou o major pelo rádio. “Chefe, acho que podemos recolher o pessoal. Nosso ‘colaborado­r’ não apareceu.” Fabri concordou. “Um dia a gente pega esse cara. Temos paciência.”

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