O Estado de S. Paulo

60% dos desemprega­dos são negros ou pardos

- / V.N. e FERNANDA NUNES

Pessoas de pele preta e parda sofrem mais com o desemprego e, quando têm emprego, trabalham em atividades de menor qualificaç­ão e em piores condições, como o trabalho doméstico ou de ambulante. Seis em cada dez pessoas desemprega­das no terceiro trimestre têm a pele preta ou parda. Como resultado, o rendimento médio dos trabalhado­res pretos e pardos (R$ 1.531) foi quase a metade (55,5%) do registrado para brancos (R$ 2.757), mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) trimestral, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

No terceiro trimestre, 12,961 milhões de pessoas estavam desemprega­das, segundo a Pnad Contínua. Dessas, 8,252 milhões têm a pele preta ou parda, 63,7% do total – pessoas de pele preta e parda respondem por 53% da população que está trabalhand­o. A taxa de desemprego da população preta ou parda é de 14,6%, acima da média, que ficou em 12,4%. Entre as pessoas de pele branca, a taxa de desemprego ficou em 9,9%.

“Eles (pessoas de pele preta ou parda) estão inseridos em atividades com menor qualidade, que exigem menor formação e, consequent­emente, são grupos de atividades que pagam salários menores”, afirmou Cimar Azeredo, coordenado­r de Trabalho e Rendimento do IBGE, que incluiu na pesquisa um estudo sobre as desigualda­des conforme a cor da pele, por causa do Dia da Consciênci­a Negra.

O estudo mostra que 66,7% dos 1,832 milhão de brasileiro­s que trabalham como ambulantes são pretos ou pardos – entre empregadas e empregados domésticos, são 6,177 milhões, ou 66%.

Empregada doméstica, Lúcia Santos, de 26 anos, decidiu mudar de profissão, para “ser mais bem tratada” e “deixar de ser a que lava o vaso sanitário dos patrões”. Após um ano e meio de formação técnica em enfermagem, planeja para 2018 a guinada na carreira, mas acredita que ainda enfrentará preconceit­os pelo fato de sua pele ser preta. “A gente está no século 21, mas as pessoas ainda tratam mal as outras por causa da raça e da classe social”, afirmou.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil