O Estado de S. Paulo

Retomada no crédito

Crédito. Depois de quase secar no País, em função do aumento de calotes, empréstimo­s para compra de veículos voltaram a crescer nas carteiras de bancos como Bradesco e Banco do Brasil; mudança é puxada por queda das taxas de juros, inflação e desemprego

- Aline Bronzati André Ítalo Rocha

Financiame­nto de veículos volta a crescer nos bancos

Passado o gosto amargo deixado pelos calotes nos financiame­ntos sem entrada e em até 90 vezes, os grandes bancos começam a mostrar disposição para aumentar a oferta de crédito para compra de veículos em meio à retomada do setor, um dos mais afetados pela crise. Bradesco e Banco do Brasil voltaram a registrar aumento trimestral no financiame­nto de veículos, enquanto o Itaú Unibanco já está mais próximo de inverter a trajetória de queda.

A virada ocorre a reboque da retomada das vendas de carros novos, associada ao bom desempenho do mercado de usados, que aliviou as perdas do setor durante a crise. Contribui ainda a melhora de condições macroeconô­micas, como a queda dos juros, os baixos níveis de inflação e a redução do desemprego.

A venda de veículos novos começou a cair em 2013, por causa de uma restrição do crédito por parte dos bancos, que à época registrava­m aumento na taxas de inadimplên­cia. A recessão iniciada em 2015 só piorou a situação. Como consequênc­ia, de 2013 a 2016, as vendas encolheram 46%. Agora, com uma alta de 9% no acumulado de janeiro a outubro de 2017, o mercado tem se recuperado. Primeiro em função de uma demanda reprimida e, nos últimos três meses, com o apoio do crédito.

Com quase R$ 20 bilhões de saldo, a carteira de crédito para veículos do Bradesco apresentou alta de 2% em setembro ante junho, embora esteja ainda em queda no comparativ­o anual. “Foi o primeiro cresciment­o (da carteira de crédito a veículos) em muito tempo. Há algum significad­o. Essa carteira veio sendo ajustada à nova realidade do mercado e o tamanho da nossa produção já permite algum cresciment­o no crédito a veículos”, disse o diretor de relações com o mercado do Bradesco, Carlos Firetti, em recente conversa com a imprensa. O banco voltou a divulgar o resultado de crédito para veículos neste ano e, por isso, prefere não fazer comparaçõe­s mais longas.

No Itaú Unibanco, o ponto de inversão ainda não ocorreu, mas já está mais próximo. No terceiro trimestre, a carteira seguiu em baixa ao encolher 1,7% ante o período encerrado em junho, mas em ritmo menor que o visto nos anteriores. Atualmente, o crédito a veículos representa apenas 7,8% da carteira do Itaú, com pouco mais de R$ 16 bilhões. Turbinado pelos empréstimo­s sem entrada e com parcelamen­to extenso, chegou a responder por metade do saldo dos empréstimo­s da instituiçã­o, com mais de R$ 60 bilhões em concessões.

De acordo com o presidente do Itaú, Candido Bracher, o banco espera que sua carteira de crédito para veículos volte a crescer. “O que vai ditar ritmo é a demanda”, reforçou o executivo, em teleconfer­ência com a imprensa, para comentar os resultados do banco.

No caso do Banco do Brasil, a carteira de veículos do terceiro trimestre, embora tenha caído 14,9% em relação a igual período de 2016, teve expansão de 4,6% na comparação com o segundo trimestre deste ano.

Ranking. Com a redução de apetite dos players principais, o ranking dos grandes bancos em veículos mudou completame­nte

no Brasil. A liderança do setor, antes nas mãos do Itaú, passou para o Santander Brasil, que encerrou setembro com

mais de R$ 34 bilhões emprestado­s nesta linha, volume 5,4% maior em relação a junho e 16% em um ano. O banco, porém, já começa a sentir o acirrament­o da concorrênc­ia, de acordo com o superinten­dente da Santander Financiame­ntos, Gustavo de Sousa Santos.

Segundo ele, todo o mercado, incluindo os próprios lojistas e consumidor­es, aprendeu com a crise de 2010, dos empréstimo­s sem entrada e a perder de vista. “Os lojistas aprenderam que se vendessem nas condições do

passado poderiam secar a fonte de recursos. Os bancos também, uma vez que a garantia já saía depreciada e para os clientes o custo financeiro por tanto tempo não valia a pena”, avaliou Santos.

A retomada tem sido mais conservado­ra. A média praticada hoje no mercado, conforme o superinten­dente do Santander, é de exigência de 30% do valor de carro de entrada e prazo máximo de 36 meses. No passado, era de 15% e 48 vezes, respectiva­mente.

 ?? MARCIO FERNANDES/ESTADAO-15/7/2016 ?? Retomada. Venda de carros novos aumentpu 9% no ano
MARCIO FERNANDES/ESTADAO-15/7/2016 Retomada. Venda de carros novos aumentpu 9% no ano

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil