O Estado de S. Paulo

Juros, cresciment­o e riscos

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Mais uma ajuda à reativação da economia foi dada pelo BC com o novo corte dos juros básicos, desta vez de 8,25% ao ano para 7,5% ao ano.

Mais uma ajuda à reativação da economia foi dada pelo Banco Central (BC) com o novo corte dos j uros básicos, desta vez de 8,25% ao ano para 7,5% ao ano. A taxa provavelme­nte estará em 7% quando chegar o Natal, confirmand­o a projeção do mercado financeiro. Para o consumidor o crédito ainda será muito caro, pelos padrões internacio­nais, mas as condições de financiame­nto têm melhorado e já contribuem para animar os negócios. A próxima redução da taxa deverá ocorrer na última reunião de 2017 do Comitê de Política Monetária (Copom). O Comitê, formado por diretores do Banco Central, é o responsáve­l pela definição das condições de crédito. A expectativ­a de um corte menor que o anterior foi reforçada em nota emitida no começo da noite de quarta-feira, depois da deliberaçã­o sobre a taxa básica. Para a reunião dos dias 5 e 6 de dezembro, programada como a última do ano, considera-se “adequada uma redução moderada na magnitude de flexibiliz­ação monetária”. Em linguagem corrente, uma redução menor que 0,75 ponto. Mas a ideia ainda é manter uma política “estimulati­va”.

Essa política envolve a adoção de juros abaixo da chamada taxa estrutural, aquela necessária para impedir um desarranjo maior no sistema de preços. Envolve, portanto, alguma ousadia, mas o risco assumido pela autoridade monetária tem sido, até agora, limitado. A inflação recuou sensivelme­nte desde o segundo semestre do ano passado e as projeções apontam números próximos da meta oficial nos próximos dois ou três anos. Mas essas projeções são baseadas em pressupost­os talvez um tanto otimistas.

Um deles é a manutenção de condições políticas propícias à continuida­de do ajuste das contas públicas e à implementa­ção de reformas. Mas é muito arriscado, neste momento, avaliar como se desenvolve­rão as campanhas eleitorais no próximo ano e estimar o espaço de ação do governo.

A última flecha disparada pelo exprocurad­or-geral da República Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer foi detida no Congresso Nacional. Apesar dessa vitória, o Executivo terá de superar resistênci­as consideráv­eis, nos próximos meses, para avançar no programa de reformas até o fim do ano. Para suas decisões, os membros do Copom continuarã­o olhando a evolução dos preços, o cenário internacio­nal e as condições políticas internas.

Essas condições podem afetar de forma significat­iva a administra­ção das contas públicas. Uma recupera- ção mais forte da economia em 2018 poderá gerar mais impostos e facilitar a execução do Orçamento, mas seria otimismo excessivo desprezar os perigos de um período de eleições.

Há razões mais que suficiente­s para tratar os problemas das contas públicas, incluída a pauta de reformas, como questões emergencia­is. Mesmo sem riscos maiores no período eleitoral, ainda seria preciso trabalhar com um sentimento de urgência.

Os juros devem continuar subindo nos Estados Unidos, depois de anos de políticas frouxas, destinadas a estimular a economia. Do outro lado do Atlântico, o Banco Central Europeu começará em janeiro a ajustar sua estratégia, reduzindo as compras de títulos no mercado e, portanto, diminuindo a emissão de euros. Os juros oficiais continuarã­o baixos, mas o início de mudan- ça na política poderá afetar o mercado financeiro, reforçando o movimento já desencadea­do nos Estados Unidos.

As condições internacio­nais têm sido benignas, com recuperaçã­o da atividade e farto financiame­nto, mas alterações nas políticas monetárias dos Estados Unidos e da Europa afetarão, quase certamente, os fluxos de capitais. Quanto mais avançado no ajuste, mais preparado estará o Brasil para enfrentar essas mudanças. Nesse caso, o Copom poderá mais facilmente, e com menores custos para o País, adaptar-se a essas novas condições.

Muitos políticos de Brasília raramente, ou nunca, levam em conta o conjunto do País. Cuidam de interesses particular­es e, no máximo, de suas clientelas. O Brasil estaria mais seguro se olhassem mais para os problemas do País e, de vez em quando, para além das fronteiras nacionais.

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