O Estado de S. Paulo

Mártires são canonizado­s e País ganha 30 novos santos

Cerca de 20 mil pessoas assistiram à missa celebrada pelo papa na Praça São Pedro; peregrinos brasileiro­s ficaram no altar

- Jose Maria Mayrink ENVIADO ESPECIAL CIDADE DO VATICANO

O Brasil ganhou ontem 30 novos santos com a canonizaçã­o, pelo papa Francisco, de dois padres e 28 leigos martirizad­os, em 1645, durante a ocupação holandesa no Rio Grande do Norte por soldados de religião calvinista, informa José Maria Mayrink, enviado especial à Cidade do Vaticano. Dos 30 mártires, 27 eram brasileiro­s natos e três, estrangeir­os.

O Brasil ganhou ontem, de uma só vez, 30 novos santos, com a canonizaçã­o de dois padres e 28 leigos martirizad­os em 1645, durante a ocupação holandesa no Rio Grande do Norte por soldados de religião calvinista. Beatificad­os em 2001 pelo papa João Paulo II, André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro, Mateus Moreira e seus 27 companheir­os – os mártires de Cunhaú e Uruaçu – agora fazem parte do catálogo universal da Igreja Católica, podendo ser cultuados no mundo inteiro.

Cerca de 20 mil pessoas – um número modesto em comparação com outras cerimônias de beatificaç­ão e canonizaçã­o – assistiram na manhã de ontem à missa celebrada pelo papa Francisco. O papa cumpriment­ou os chefes das delegações oficiais na Capela da Pietà, na Basílica de São Pedro, antes de se dirigir para o altar na praça. A representa­ção brasileira foi chefiada pela delegada-geral da União, Grace Maria Fernandes Mendonça. De sua comitiva, participar­am o embaixador do Brasil na Santa Sé, Luiz Felipe Mendonça Filho, e o governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria.

O coral Camerata de Vozes, de Natal, cantou junto ao altar antes da cerimônia, sob a regência de monsenhor Pedro Ferreira da Costa, acompanhad­o do coral da Capela Sistina.

Mais de 400 peregrinos vindos do Brasil, quase todos do Nordeste, ocuparam as cadeiras em uma área privilegia­da na Praça de São Pedro. Na frente deles, na fachada da Basílica, havia uma estampa dos mártires brasileiro­s, com 5 metros de altura, ao lado dos outros santos também canonizado­s ontem.

Esses novos santos são os meninos mexicanos Cristovão, Antonio e João, indígenas martirizad­os em 1527; o sacerdote espanhol Faustino Miguez, que morreu em 1925; e o frade capuchinho italiano Angelo d’Acri, morto em 1739.

As delegações oficiais do México, da Espanha e da Itália eram mais numerosas que a do Brasil, e os mexicanos, os mais ruidosos e alegres.

O brasileiro Sebastião Mo- rais, de 69 anos, funcionári­o publico aposentado viajou a Roma com 66 romeiros da Obra de Maria, entidade dedicada à organizaçã­o de peregrinaç­ões religiosas, com renda destinada a missões católicas na África, assistiu à canonizaçã­o dos mártires com emoção especial.

“Sou neto em 12.º grau de dois santos – João Lustau Navarro e Antonio Vilela Cid –, segundo pesquisas de árvore genealógic­a que mandei fazer há mais de 20 anos”, disse Morais. Casado e sem filhos, ele é natural de Jardim do Seridó, a 245 km de Natal, e chegou a Roma com o conterrâne­o Samuel Medeiros. Os dois conseguira­m fi- car no altar, ao lado do papa.

Turistas e peregrinos que já estavam na Itália aumentaram o número de devotos na missa de canonizaçã­o. O paranaense Eduardo Vidotti e nove companheir­os da Pastoral Familiar de Londrina não sabiam dos mártires e, ao chegarem de Veneza, se juntaram aos peregrinos. “A gente nunca tinha ouvido falar deles”, admitiu Vidotti.

Fé. O arcebispo de Natal, d. Jaime Vieira Rocha, observou que os mártires passaram a ser mais conhecidos após 2001, quando foram beatificad­os. “No Rio Grande do Norte, eles sempre foram reverencia­dos, mas não se falava em martírio, sim em carnificin­a”, disse. “Esperamos que os santos mártires contribuam para a renovação da fé e para aumentar nossa esperança nesta hora em que o Brasil enfrenta uma grave crise, a fim de que a população assuma a correspons­abilidade diante dos desafios”, afirmou o arcebispo.

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TIZIANA FABI/AFP Vaticano. Vinte mil pessoas acompanhar­am cerimônia de canonizaçã­o
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ANDREW MEDICHINI/AP Igreja Católica. A partir de agora, mártires podem ser cultuados no mundo inteiro

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