Nova perícia indica que Nisman foi assassinado
Detalhes da morte de promotor argentino que denunciou Cristina Kirchner serão divulgados este mês, mas trechos foram antecipados por jornais
Uma perícia feita pela polícia argentina sobre a morte do procurador Alberto Nisman, que deve ser publicada no fim do mês, concluirá que não houve suicídio no caso, informaram ontem dois jornais argentinos – o Clarín e o Perfil.
Nisman foi encontrado morto no banheiro de seu apartamento em Puerto Madero, área nobre de Buenos Aires, em janeiro de 2015, quatro dias depois de denunciar a então presidente Cristina Kirchner por encobrir investigações do atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia). Cristina disse ontem que é um “imenso disparate” vincular ela ou seu governo ao caso, reaberto pela Justiça argentina no fim do ano passado.
Diante de idas e vindas do processo, que chegou a ser arquivado e reaberto no fim do ano passado, o procurador Jorge Taiano pediu à Gendarmería Nacional (braço militar da polícia argentina) que conclua a investigação até o fim do mês para que seja definido de vez se Nisman foi vítima de homicídio ou suicidou-se.
Dados da investigação publicados pelo Clarín indicam que a perícia encontrou ketamina, um remédio de uso veterinário que, em pequenas doses, provoca efeitos alucinógenos e, num volume maior, um estado de quase paralisia, o que tornaria improvável que Nisman carregasse uma arma. Há indícios também de que Nisman foi golpeado. Além disso, não havia no apartamento do procurador nenhuma digital que não a de Nisman, apesar de diversas pessoas terem passado pelo local no fim de semana em que ele morreu. Isso indicaria que alguém apagou os vestígios.
“É uma acusação sem nenhum tipo de fundamento e nem aqueles que a propagam acreditam nela de verdade”, disse Cristina, que é candidata ao Senado nas eleições de outubro, ao site Infobae. Caso seja eleita, a ex-presidente, que responde a mais dois processos na Justiça, pode ter imunidade parlamentar.
Ela disse também que é inocente da acusação imputada a ela por Nisman antes de morrer. Em 18 de janeiro de 2015, o procurador acusou Cristina e o ex-chanceler argentino Héctor Timerman de tentar encobrir a responsabilidade dos autores do ataque à associação judaica Amia, em 1994, que deixou 85 mortos. Pelo acordo fechado por Cristina, uma delegação internacional de juristas ficaria incumbida de interrogar ex-funcionários do governo de Teerã.
Entre os suspeitos de planejar o atentado estão o ex-presidente do Irã Ali Akbar Rafsanjani, morto em janeiro, e o exchanceler Ali Akbar Velayati. Ainda na entrevista de ontem, Cristina voltou a negar que o acordo tivesse interesses comerciais.
“Era o único instrumento para destravar as investigações e conhecer a verdade. Depois de 23 anos, ainda não há respostas para as vítimas”, disse. “Fizemos isso para dar memória, verdade e Justiça às vítimas.”
Cristina ainda ressaltou que ela e o marido foram os únicos presidentes argentinos que cobraram o Irã na ONU pelo atentado e pediram cooperação das autoridades de Teerã. “O acordo foi a primeira vez em que o Irã aceitou assinar um memorando sobre o assunto”, disse. “Isso faz parte de uma perseguição judicial (contra ela).”
Sobre as causas da morte de Nisman, a ex-presidente disse que não é o momento de falar de hipóteses e reafirmou que quando ainda era presidente tratou pelo Facebook da hipótese de o caso não ser suicídio.